quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Entendendo o Sermão Profético

As instruções de Jesus aos Seus discípulos no Monte das Oliveiras (o Sermão Profético) aparecem em Mateus 24-25, Marcos 13 e Lucas 17.20-37. Esses são alguns dos textos mais importantes da Bíblia porque não apenas nos apresentam o último discurso do Senhor, mas também o Seu ensinamento profético mais extenso.

O Sermão Profético revela como Jesus interpreta as passagens proféticas cruciais do Antigo Testamento a respeito de Israel e das nações. Ele serve como um inspirado esboço dos eventos do fim dos tempos. Além disso, explica o julgamento divino de Israel , especialmente Sua restauração prometida no advento do Rei Messias e o estabelecimento do Seu reino messiânico.

Se interpretado adequadamente, o Sermão Profético permite à Igreja nesta época distinguir a si mesma da nação de Israel na Tribulação – o futuro “tempo da angústia de Jacó” – e dos eventos que vão caracterizar esse período anterior ao retorno de Cristo ao mundo.

Muita confusão profética tem resultado da falha em entender que o Sermão Profético envolve Israel, não a Igreja, e refere-se ao tempo (escatológico) futuro, não ao passado ou ao presente.

Mateus 24.1-14 explica o panorama histórico (vv. 1-3) que precipitou o discurso profético e descreve os sinais, ou “dores de parto” (juízos divinos da primeira metade da Tribulação, vv. 4-13) e a evangelização global que será proclamada na metade desse período (v. 14).

O cenário foi a última ocasião de Jesus e Seus discípulos na jornada a Jerusalém para adorar no Templo. Cientes do pronunciamento de Jesus contra a nação e particularmente contra os escribas e fariseus (Ele tinha acabado de dizer: “Eis que a vossa casa vos ficará deserta” [Mt 23.38]), os discípulos talvez pensassem que um apelo pela unidade nacional simbolizada pelo Templo poderia amenizar a disposição de Jesus em relação ao julgamento da nação. De fato, algumas seitas judaicas, como a de Qumran, esperavam que o Templo fosse destruído porque ele tinha um sacerdócio ilegítimo e tinha sido corrompido ritualmente; mas os discípulos sabiam que Jesus continuava a reverenciar o Templo como a “casa de meu Pai” (veja Jo 2.16).[1]

Os discípulos também estavam impressionados, como a maioria naquele tempo, com a magnificência incomparável do Templo, que se tornara origem de orgulho nacional: “Falavam alguns a respeito do templo, como estava ornado de belas pedras e de dádivas” (Lc 21.5). Os discípulos fizeram a sua declaração nacional a Jesus assim que Ele deixou os limites da área do Templo. Lá, eperando-O, eles começaram a chamar a atenção para os últimos acréscimos na estrutura do edifício que, de acordo com João 2.20, tinha sido edificado durante 46 anos: “Mestre! Que pedras, que construções!” (Mc 13.1).
Vista do Monte das Oliveiras.
Talvez os discípulos também pensassem, como Aristeas em sua carta a Filócrates (Carta de Aristeas, 100- 101 a.C.), que o Templo era inviolável e invencível. Conseqüentemente, eles estavam tentando compreender as afirmações de Jesus sobre o juízo. Em todo caso, Jesus recorreu a ambas as idéias em Sua resposta inesperada de que todas essas pedras que eles Lhe haviam mostrado ruiriam violentamente no tempo do juízo.

Sem dúvida, enquanto os discípulos pensavam nessas palavras, concluíram que Jesus se referia ao ataque final a Jerusalém predito por Zacarias para o fim dos tempos, quando o Senhor destruirá as nações gentias e estabelecerá o reino messiânico (Zc 14.3-9). Os discípulos acreditaram que esses eventos já estavam em andamento e logo aconteceria o clímax com a revelação pública de Jesus e o Seu reinado como Messias.

Entretanto, enquanto caminhavam com Ele na subida para o Monte das Oliveiras, o círculo íntimo dos discípulos decidiu que precisava de esclarecimento, especialmente em relação ao assunto da destruição do Templo e ao tempo para o qual Jesus tinha predito esses eventos. Por isso, em Marcos 13.4, em particular, esses discípulos Lhe fizeram duas perguntas: “Dize-nos, quando sucederão estas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para cumprir-se”.

A primeira questão diz respeito ao tempo específico da destruição do Templo; a segunda (composta de duas partes relacionadas), refere-se aos “sinais” que marcariam o advento de Jesus a Israel (no grego, parousia, “presença corporal”), como Messias no final dos tempos.[2] A resposta de Jesus a essas questões constitui o ensino profético do Sermão Profético. A primeira questão é tratada em Lucas 21.10-24 e a segunda em Mateus 24.4-31 e Marcos 13.1-27.
O Muro das Lamentações, a única porção do Segundo Templo que ainda hoje se encontra em pé.
Tem havido discussões consideráveis sobre se o Sermão Profético cumpriu-se no passado ou ainda está para se cumprir, como acreditam os futuristas. Historicistas têm assegurado que a maioria dos eventos descritos (com exceção do advento de Cristo) já se cumpriu. Preteristas afirmam que todos os eventos (incluindo o advento) foram especificamente cumpridos em 70 d.C. Os discípulos também presumiram uma conexão entre a destruição do Templo e o advento do Messias. Jesus proferiu o Sermão Profético para corrigir esses mal-entendidos e para proteger Seus discípulos do engano. Eles poderiam equivocar-se por causa dos eventos que ocorreriam em sua geração, já que Jesus não viria corporalmente para restaurar Israel e estabelecer Seu reino messiânico depois que os romanos arrasassem o Templo.[3]

Portanto, Jesus começou Seu discurso com uma advertência: “Vede que ninguém vos engane” (Mc 13.5). Deixando de entender essa advertência, os preteristas têm-se perdido em sua interpretação, sendo obrigados a espiritualizar a profecia numa tentativa de forçar um cumprimento no primeiro século. Entretanto, Jesus explicou que aquilo que os discípulos viam como eventos conectados, eram acontecimentos cronológicos e seqüenciais, mas que não ocorreriam todos no mesmo espaço de tempo.
“E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim” (Mt 24.14).
Apesar das terríveis condições da Tribulação, é predito um dos maiores esforços evangelísticos na história : “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim” (Mt 24.14).

Essa mensagem global, mesmo tendo os mesmos elementos do Evangelho da graça, ou seja, a fé em Jesus como Salvador, enfatiza o arrependimento concernente à vinda do Messias para derrotar as nações e estabelecer o reino messiânico para Israel. Esse arrependimento é que reverterá a condição de desolação da casa de Israel (Mt 23.38-39; confira At 3.19-21).

Essa foi a mesma mensagem inicialmente pregada por João Batista e por Jesus durante Seu ministério terreno. Entretanto, “o Evangelho do reino” não poderá ser proclamado novamente até que a nação [de Israel] retorne aos limites cronológicos da 70ª semana de Daniel. O termo grego para “mundo”, em Mateus 24.14, significa “a terra habitada”, mas não pode limitar-se a uma região particular, pois deve incluir o mundo inteiro ocupado pelos gentios.

Esse é o “mundo” que Cristo virá julgar (At 17.31), o que está implícito na frase “Então virá o fim” (Mt 24.14). Por essa razão essa evangelização global não pode ser limitada ao Império Romano do primeiro século. Também não pode ter sido realizada entre 25 ou 30 anos após a ascensão de Cristo. Do mesmo modo, a Grande Comissão não pode ter sido cumprida até 70 d.C., como afirmam os preteristas.

As boas-novas que o Senhor Jesus tem deixado para os que crerem no tempo futuro da angústia de Jacó é que as “dores de parto” não vão impedir o Evangelho do reino. Em vez disso, os julgamentos irão magnificar sua mensagem, reforçar sua urgência e cumprir a promessa da profecia de Jeremias de que Israel “será livre dela” (Jr 30.7). (Israel My Glory - http://www.chamada.com.br)

Randall Price é escritor e arqueólogo. Ele é presidente de World of the Bible Ministries.

Notas:

Para mais detalhes veja Randall Price, The Coming Last Days Temple (Eugene, OR: Harvest House, 1999).
Gerald B. Stanton, Kept From the Hour (Grand Rapids: Zondervan, 1956), 21.
Randolph O. Yeager, “Matthew 19- 28” em The Renaissance New Testament (Gretna, LA: Pelican Publishing Company, 1998), 277.

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