segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Vaticano ocupa 8º lugar global em lavagem de dinheiro

Sucessão de escândalos pode resultar em fechamento do Banco do Vaticano.

Vaticano ocupa 8º lugar global em lavagem de dinheiroVaticano ocupa 8º lugar global em lavagem de dinheiro
O Banco do Vaticano foi criado pelo Papa Pio XII em 1942. Desde o início, seus estatutos foram redigidos de tal forma que nem o papa teria acesso direto à sua administração. Com o início da 2ª guerra Mundial, em 1943, foram levantadas suspeitas de que banco poderia guardar verbas produzidas pelo regime nazista.
A maior contestação desde então é por que a maior entidade religiosa do mundo precisaria de um banco, cujo nome oficial é Instituto de Obras da Religião (IOR). E qual a motivação para ele ser acionários de empresas como a FIAT e a Alfa Romeo, além de participações em empreendimentos como rede de joalheiros de luxo Bulgari, o banco de investimentos Altium Capital e o Pall Mall.
Nos últimos anos as coisas pioraram. E muito. Em setembro de 2010, o IOR foi investigado pela justiça italiana com a suspeita de lavagem de dinheiro. O Ministério Público italiano congelou 23 milhões de euros usados em “transações irregulares”. Depois de um ano de batalha judicial, o dinheiro foi desbloqueado, mas a investigação continua. O banco sempre negou irregularidades.
Em 2012, jornais italianos publicaram cartas secretas que apontavam um conflito entre os mais altos membros do Vaticano sobre o quão transparente o banco estatal deveria ser em relação às suas transações financeiras. Logo em seguida, o Departamento de Estado americano colocou, pela primeira vez na história, o Vaticano na lista de países suscetíveis à lavagem de dinheiro.
O menor Estado do mundo, onde além do papa vivem apenas 800 pessoas, aparecia na categoria “preocupação”, junto a países como Polônia, Egito, Iêmen, Hungria e Vietnã.
“Com os grandes volumes de divisas internacionais que passam pela Santa Sé, é um sistema que o torna vulnerável como potencial centro de lavagem de dinheiro”, explicou na época Susan Pittman, da divisão do Departamento de Estado que cuida da aplicação da lei e do combate internacional a narcóticos.
Nessa época, a má gestão chegou a fazer o Banco do Vaticano experimentar o seu pior déficit dos últimos anos: 19 milhões de dólares. Era o auge de um escândalo de duas décadas sob suspeitas de lavagem de dinheiro e ligações com a máfia, além do “desaparecimento” de US$ 1 bilhão em um banco com quem fazia transações.
Em fevereiro de 2013, antes de renunciar, o papa Bento 16 trocou o diretor do banco do Vaticano, O alemão Ernst Von Freyberg foi empossado.
Essa medida já provou ser ineficaz outras vezes. Em 1989, o arcebispo norte-americano Paul Marcinkus, foi responsabilizado pelas autoridades italianas de envolvimento com a Máfia, na falência do Banco Ambrosiano, escândalo que envolveu a loja maçônica P-2 e vários banqueiros. O caso inspirou a produção de filmes e de vários livros.
Mesmo agora, após Francisco ter assumido, as coisas não melhoraram. No mês passado, a polícia italiana prendeu o monsenhor Nunzio Scarano, 61 anos, suspeito de participar do desvio de milhões de euros do Banco Vaticano. O prelado (título dos altos dignitários da Igreja Católica) trabalhava como contador da administração financeira e teria ajudado alguns amigos ricos a levar grandes valores para a Itália. Ele cumpre prisão domiciliar e aguarda julgamento.
Em meio às investigações, ainda não concluídas, surgiram indícios que o Instituto de Obras da Religião teria “lavado” cerca de 33 bilhões de dólares. Novamente a cúpula do Banco, com a saída de Paolo Cipriani e Massimo Tulli.
Este mês, foi divulgada uma pesquisa realizada pela rede de organizações sociais francesas Voltaire, baseada em dados fornecidos pelos governos a Alemanha e Suíça. O Vaticano atualmente ocupa o 8º lugar entre os países que mais lavam dinheiro, ultrapassando conhecidos paraísos fiscais como Suíça, Bahamas, Liechtenstein, Nauru e as Ilhas Maurício.
O papa Francisco montou uma comissão formada por cardeais e outros assessores que está investigando os bastidores do IOR e deve apresentar propostas de mudanças radicais no banco. É cogitado, inclusive, o fechamento do instituto e a sua transformação numa entidade que possa administrar os recursos financeiros da Igreja Católica de outra maneira.
Essa comissão já consultou a União Europeia, pedindo assessoria técnica, por meio do Moneyval, um organismo da UE que avalia e executa medidas contra lavagem de dinheiro e contra o terrorismo.
O atual diretor da IOR, Battista Ricca, assumiu o Banco do Vaticano faz dois meses, mas já é acusado de fazer parte do célebre “lobby gay” católico, cuja existência foi desmentida por Francisco na polemica entrevista dada em sua despedida do BrasilCom informações de Carta Maior e Reuters.

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