INTRODUÇÃO E AS CHAVES DE INTERPRETAÇÃO
Lição 1
Leitura: I Pe 1.3-12
Versículo para Memorizar: Ap. 19.10, “E eu lancei-me a seus pés para o adorar; mas ele disse-me: Olha não faças tal; sou teu conservo, e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia.”
Introdução
A palavra “escatologia” significa: [Do gr. eschatos, 'último', 'extremo', 'final' + -logia, discurso, ciência, estudo.] S. f. 1. Doutrina sobre a consumação do tempo e da história. 2. Tratado sobre os fins últimos do homem (Dicionário Aurélio Eletrônico - Século XXI ver. 3.0, nov 1999).
Deus age com ordem, e deseja que façamos tudo decentemente e com ordem (I Co 14.40). Creio ser proveitoso promover algumas chaves importantes para interpretar o que a Bíblia diz sobre o assunto de escatologia. Se mergulhássemos neste assunto sem regra fixa que nos orientássemos, ficaríamos como uma folha seca levada a todo lugar pelo vento (Sl. 1.4; Mt 7.26,27; Ef 4.14), ou seja, ficaríamos instáveis, sem segurança na fé, impossibilitados de ensinar a outros e sem a consolação que essa doutrina traz manejada corretamente (I Ts 4.18, “Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras.”). Essa ordem é uma infraestrutura sólida que possibilita o Cristão exercitar os seus sentidos de discernimento e, assim, se aperfeiçoa para toda boa obra (Hb 5.14-6.1; II Tm 3.16-17; I Pe 2.2; Tg 1.25).
Desde que Deus não encobriu muitos fatos da escatologia, os revelando na Sua Palavra, são para nós e os nossos filhos para sempre (Dt 29.29). Essas verdades contidas nas Escrituras estão descobertas para nosso ensino e para nossa consolação (Rm 15.4). Portanto, Deus não nos deu essas verdades eternas para serem interpretadas de qualquer forma (II Pe 1.20). Se a interpretação das verdades da Palavra de Deus gera confusão e insegurança; gera falta de crescimento à imagem de Cristo, ou posiciona a bíblia contra si mesma podemos estar confiantes que tal interpretação não é de Deus (I Co 14.33, “Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos.”).
Gostaria de propor sete regras para lembrarmos durante a nossa busca de entendimento sobre a doutrina das “últimas coisas”. Tendo essas chaves para nos nortear, creio que amadureceremos para a glória de Deus.
Sete Chaves de Interpretação da Profecia Bíblica
1. Iluminação do Espírito Santo é Necessária – Jo 16.13-14, “Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar.” É essencial a obra do Espírito Santo em qualquer estudo bíblico. Como podemos esperar entender a verdade sem O Guia em toda a verdade? Como entendemos as coisas de homem pelo espírito do homem, sabemos exclusivamente as coisas de Deus pelo o Espírito de Deus (I Co 2.11, “Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus”). Portanto: “Abre tu os meus olhos, para que veja as maravilhas da tua lei.”, Sl 119.18.
2. Literalidade em Primeiro Lugar – Dt 29.29, “As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.”; “Certamente o Senhor DEUS não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas.”, Amós 3.7. O Pastor Davis W. Huckabee comenta no seu livro Estudos em Hermenutica Bíblica, pgs. 24-25 o seguinte:
“A obscuridade deliberada é impensável numa revelação. Mas se essas coisas são assim, então é óbvio que ao dar uma revelação de Sua vontade ao homem, Deus não obscureceria deliberadamente o sentido dela, mas a apresentaria em termos mais claros e necessários para o homem entendê-la. Se fosse de outro jeito, não se poderia fazer com que o homem prestasse contas por conhecê-la, pois até mesmo a lei humana reconhece o princípio onde declara que nenhuma lei obscura tem alguma força obrigatória. Se cremos que a bíblia é a revelação de si mesmo e Sua vontade ao homem, então devemos também crer que ela será expressa em termos que o homem possa entender. E certamente indicam isso as centenas de exemplos em que as Escrituras dizem “Então falou Deus todas estas palavras”, ou “veio a palavra do Senhor”, e outras declarações semelhantes que indicam que o que é entregue é compreensível àqueles a quem é falado.
“Por esse motivo não temos o direito de entender qualquer palavra em qualquer sentido, exceto seu sentido mais natural e comumente aceito, exceto em raras exceções que consideraremos mais tarde neste estudo. Alguém bem disse: “Se o sentido comum de uma palavra faz sentido, então não busque outro sentido”. A tolice de fazer de outro jeito foi mostrada nos primeiros dias da história cristã, pois até hoje o entendimento de muitas pessoas acerca das Escrituras foi arruinado pelas interpretações loucas que certos antigos comentaristas da Bíblia aplicaram às Escrituras. Orígenes (c. 185-254) de Alexandria, um dos tão chamados “Pais da Igreja”, popularizou a espiritualização até mesmo dos textos mais simples e ensinando que eles sempre tinham algum significado misterioso e oculto que não era óbvio ao crente comum. Seu método de descartar até os ensinos mais claros foi seguido por alguns em todas as gerações. É claro, o ego do pregador se sente bajulado se ele puder afirmar ter achado nos textos simples o que não é evidente para ninguém mais, e isso explica, em grande parte, a popularidade de tais meios não bíblicos de lidar com a Bíblia. Um desejo orgulhoso de obter glória para si é sempre uma tentação para qualquer um, inclusive pregadores. Tendo dito isso, deve-se reconhecer que há partes das Escrituras que têm sentidos simbólicos ou representativos, pois o próprio Senhor e seus escritores inspirados às vezes mostram isso. Mas devemos ter o cuidado de não inventar tais interpretações, e principalmente nunca ir atrás de tal modo de interpretação que menospreze o sentido literal do texto.” (D. W. Huckabee, Estudos em Hermenêutica, pg. 24-25, itálicos meus).
Espiritualizando profecia encoberta o seu segredo, mas interpretando-a literalmente faz com que os Seus servos, os profetas, saibam seguramente o significado. Se a interpretação literal não faz bom senso com as outras profecias esclarecidas, pode-se procurar um sentido espiritual, mas somente se a interpretação literal contradiz a verdade que já foi estabelecida por outros versículos. Enfatizo o que o Pastor Huckabee citou: “Se o sentido comum de uma palavra faz sentido, então não busque outro sentido”.
3. Literalidade é provada pelo Cumprimento Literal – Exemplo: Os 3.4-5, “Porque os filhos de Israel ficarão por muitos dias sem rei, e sem príncipe, e sem sacrifício, e sem estátua, e sem éfode ou terafim. Depois tornarão os filhos de Israel, e buscarão ao SENHOR seu Deus, e a Davi, seu rei; e temerão ao SENHOR, e à sua bondade, no fim dos dias.” Da maneira que Deus cumpriu literalmente a maior parte das Suas profecias é uma indicação importante para nós sabermos como serão cumpridas as profecias que ainda restam ser cumpridas no futuro.
Considere as numerosas profecias detalhadas sobre a primeira vinda de Cristo – a cidade, a mãe, quem será o seu precursor, Seu ministério, os resultados deste ministério, a Sua traição por um amigo, o preço exato dessa traição, a maneira da Sua morte, do Seu sepultamento, a ressurreição, e a Sua ascensão. De maneira literal foram cumpridas. Portanto, o cumprimento das profecias sobre a Sua segunda vinda não devem ser menos literais. O citado Oséias 3.4-5 é um exemplo disso. Se a primeira parte desta profecia já foi cumprida literalmente, como poderemos esperar menos literalidade na última parte dela? O cumprimento literal da profecia no versículo quatro justifica a interpretação literal da profecia no versículo cinco.
4. Cumprimento Parcial ou Cumprimento em Duas Fazes é Possível – I Pe 1.11, “Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir”.
“Frequentemente as Escrituras proféticas têm cumprimento imediato como também futuro. A declaração do anjo em Lucas 1.31-33 exemplifica isso. Diz: “E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. 32 Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, Seu pai; 33 E reinará eternamente na casa de Jacó, e o Seu reino não terá fim.” Os fatos mencionados neste texto sobre o nascimento de Jesus Cristo foram literalmente verdadeiros (cumpridos comprovadamente), mas não serão universalmente verdadeiros (ou comprovadamente cumpridos) até a segunda vinda quando Ele vem para reinar no trono de Davi. Portanto, a lei de Cumprimento Parcial ou o Cumprimento em Duas Fazes tem que ser reconhecida em algumas porções das Escrituras quando tiver um cumprimento parcial primeiramente, seguido por um cumprimento completo depois.” – Tom Ross, pgs. 18-19, tradução livre.
5. Múltiplas Profecias em Poucos Versículos – Muitas profecias no Velho Testamento ignoram a era entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. Como se avistaram dois acontecimentos – neste caso a primeira e segunda vinda de Cristo – sem perceber que teria um espaço de tempo entre elas. Se olharmos as cordilheiras que passam pelo Brasil, veremos os picos das montanhas perto um do outro com os das mais distantes sem ver os vales entre eles. Assim foi com os profetas do Velho Testamento. Viram a primeira vinda e a segunda vinda de Cristo sem perceber a era da igreja. Portanto, o fato que dois eventos estejam profetizados um após o outro não pede o cumprimento sucessivo e imediato dos dois. Exemplo: Mq 5.2-4, “E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. Portanto os entregará até ao tempo em que a que está de parto tiver dado à luz; então o restante de seus irmãos voltará aos filhos de Israel. E ele permanecerá, e apascentará ao povo na força do SENHOR, na excelência do nome do SENHOR seu Deus; e eles permanecerão, porque agora será engrandecido até aos fins da terra.” Jesus nasceu em Belém mas o governo literal e a permanência literal de Cristo entre o Seu povo quando Ele literalmente apascentará o Seu povo, ainda não aconteceu. Portanto podem existir múltiplas profecias em poucos versículos.
6. A Época da Igreja Neotestamentária era um Mistério para os do Velho Testamento - I Pe 1.11, “Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir.” A era da igreja neotestamentária era comumente oculta aos profetas do Velho Testamento. O foco da maioria das suas profecias aponta a apostasia, restauração e futura glória de Israel somente. A instituição do ajuntamento neotestamentário, seu crescimento e a sua comissão eram vedados aos seus entendimentos. Mas Deus usou o apóstolo Paulo pelo qual abriu esse mistério como diz: Ef 3.9-11 “E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo; Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus, Segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor”. Reconhecendo esse fato entendemos que a igreja do Novo Testamento não é uma continuação do Templo, ou da nação de Israel. São entidades distintas e separadas. O fato que muitas promessas à nação de Israel podem ser aplicadas aos crentes do Novo Testamento não descarta o cumprimento literal delas para com Israel ainda. Não há razão Bíblica de transferir ou cancelar as promessas das profecias feitas à Israel somente por que algumas promessas podem ser aplicadas aos crentes do Novo Testamento. A igreja neotestamentária era um mistério não descoberto aos profetas do Velho Testamento.
7. Cristo é o Espírito da Profecia – Ap 19.10, “E eu lancei-me a seus pés para o adorar; mas ele disse-me: Olha não faças tal; sou teu conservo, e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia.” Todas as profecias na Palavra de Deus, cumpridas ou não, apontam de alguma forma a Jesus Cristo (I Pe 1.10-11). Portanto qualquer interpretação das profecias escatológicas que não prioriza ou engrandece a glória e soberania de Jesus Cristo deve ser ignorada. Que esta reprovação não seja dirigida a nós: “O néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!”, Lc 24.25. (adaptação do livro: Elementary Eschatology, Pastor Tom Ross).
I Pe 1.13-16, “Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo; Como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.”
Aplicação: Tendo a Palavra de Deus em nossas mãos, e sabendo que O Autor a deu para ser entendida e deseja que sejamos consolados por ela:
1. Peça que Ele ajude a sua compreensão orando para que o Espírito Santo sonde os vossos corações para que se houver algo não condizente à Verdade, e tendo feito isso, que Ele abra os seus ‘olhos’ para ver as belezas de Cristo (Sl 119.18, “Abre Tu os meus olhos, para que veja as maravilhas da Tua lei.”).
2. Não tema a aproximar-se com as profecias concernentes à escatologia. Deus deseja que seja consolado por elas e tenha a Sua fé firmada para não precisar de se envergonhar, mas confiantes no manejo da Sua Palavra (II Tm 2.15, “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.”).
3. Seja sábio e use os seus dias investindo nas atividades que resultem em maior temor a Deus, ou seja, obediência em amor à Sua Palavra (Sl 90.12, “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.”).
4. Não rebele contra as revelações de Cristo, mas submete-se a Ele para a salvação da sua alma (Jo 3.15-19), e maior conformidade à Sua imagem (Rm 8.29). Rejeitar a Palavra e a Verdade que Ela revela é selar a sua própria condenação.
5. Proclame a Palavra de Deus com ousadia e confiança em ter a Verdade divina em suas mãos. Seja dependente da ajuda do Espírito Santo que visa testemunhar de Cristo pela Sua Palavra (Jo 16.13-14). Lembre da promessa do Pai que a Sua palavra prosperará naquilo pelo qual a enviou (Is 55.11, “Assim será a Minha palavra, que sair da Minha boca; ela não voltará para Mim vazia, antes fará o que Me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.”).
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