O Irã deu um tiro no pé ao se negar a cooperar com a agência de energia atômica das Nações Unidas (AIEA), reduzindo as chances de renovar as discussões e aumentando as especulações sobre uma ação militar, afirmaram analistas nesta quarta-feira.
Além disso, o fracasso da visita da AIEA ao Irã pode ajudar a superar a resistência russa e chinesa em aumentar a pressão sobre a República Islâmica, acreditam os especialistas.
"A diplomacia com o Irã pode ser significativa apenas se o país trouxer aos debates evidências de que estava cooperando com a AIEA", disse à AFP o analista da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, Mark Hibbs. "Isso não ocorreu após as duas visitas da AIEA ao Irã", afirmou.
A AIEA informou, nas primeiras horas desta quarta-feira, que sua última visita a Teerã, a segunda em menos de um mês, falhou na busca por um avanço no esclarecimento das suspeitas de que o Irã tem feito um trabalho de desenvolvimento de armas nucleares.
"Estava claro que o Irã não tinha nada de concreto a oferecer para atender aos pedidos da AIEA por acesso a instalações e pessoal", disse Shannon Kile, do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês). O fato de não terem aceitado, no entanto, não foi "inesperado", disse à AFP.
Apesar das recusas iranianas, a mais recente nesta quarta-feira do líder supremo aiatolá Ali Khamenei, os países ocidentais e Israel - que Teerã afirma querer tirar do mapa - suspeitam fortemente que Teerã quer produzir uma bomba.
Um relatório da AIEA divulgado em novembro acusando Teerã de uma série de atividades aumentou essas suspeitas, levando a sanções mais rigorosas dos Estados Unidos e da UE e levantando especulações de que Israel poderia bombardear o Irã, possivelmente no começo de abril.
Apesar disso, o Irã continuou a fazer jogo duro, falando sobre os progressos em seu programa nuclear, ameaçando cortar as vendas de petróleo à Europa e realizando demonstrações ostensivas de poderio militar.
Ao mesmo tempo, entretanto, o Irã assinalou na semana passada sua disponibilidade para retomar os debates com as potências do Grupo 5+1 - Estados Unidos, China, Rússia, França, Inglaterra e Alemanha - que não deram certo na Turquia há 13 meses.
A ausência gritante de desejo por parte do Irã de se envolver dá fim à expectativa da AIEA de que estas negociações serão retomadas, disse Oliver Thraenert, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), em Berlim.
"Isso mostra claramente que o Irã não está no clima para um acordo substancial. As chances agora de retornar às negociações entre o Irã e o Grupo 5+1 não são muito altas. Isso leva as questões a um impasse," declarou à AFP.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, "gostaria de conversas que resultassem em algo concreto, ele não está interessado em discutir apenas por discutir, como no caso de Istambul", acrescentou Thraenert.
O posicionamento do Irã, incluindo o que o diretor da AIEA chamou de rejeição "decepcionante" em permitir o acesso dos inspetores às instalações militares em Parchin, também cairá mal para Moscou e Pequim, acreditam os especialistas.
"Os chineses, em particular, deixaram claro que não queriam ver o Irã se tornar um Estado nuclear e eles não têm interesse em joguinhos, como o Irã fechar o Estreito de Ormuz", declarou Thraenert.
Uma mudança na atitude russa e chinesa - até agora mais leves que do Ocidente em relação ao Irã - pode estar em evidência já em 5 de março, quando o conselho de 35 nações da AIEA discutir a situação, afirma Hibbs.
"A China e a Rússia até agora se negaram a se unir ao Ocidente em adição às sanções. Se Amano disser aos dirigentes (da AIEA) que o Irã não está cooperando, a China e a Rússia serão pressionadas a assumir um papel mais ativo na busca por uma solução diplomática para a crise", disse Hibbs.
"Rússia e China definitivamente verão isso como um revés, mas não está claro se isso necessariamente vai colocá-los a favor de mais sanções" no Conselho de Segurança, advertiu Kile, da Sipri.
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