sábado, 2 de janeiro de 2010

É preciso esmagar o boato

Logo a seguir à revolução do 25 de Abril os cartazes multiplicavam-se como cogumelos e eram, muito mais que hoje em dia, uma forma segura de fazer chegar a mensagem. Havia, por isso, cartazes com todo o tipo de temas: sobre como reconhecer um fascista, sobre a necessidade de desalojar os patrões, a instigar o ódio contra os capitalistas, sobre a necessidade de se matarem as moscas (já que as mesmas propagavam doenças) e sobre a necessidade de não se acreditar nos boatos. Este último, da responsabilidade do MFA (Movimento das Forças Armadas) estava ilustrado com um lagarto, de aspecto asqueroso, sobre o qual estava colocado um pé dentro de uma bota militar e dizia: “É preciso esmagar o boato”.

Nessa altura a contra informação era mais que muita sendo quase corriqueiro surgirem apelos à população para que se manifestasse, nas grandes praças distribuídas pelo país, em defesa do regime democrático porque os fascistas estavam de volta.

Era também usual nessa altura que alguns oficiais, representando o MFA, fossem de terra em terra com o objectivo de realizarem “sessões de esclarecimento”. Foi numa dessas sessões, transmitida pela RTP, que um aldeão colocou a pergunta: “Porque é que se preocupam tanto com os boatos?”.

O oficial respondeu: “Porque o boato é a arma dos inimigos da democracia”.

Pensei nisto, ultimamente, ao ouvir (mais uma vez) de crentes que são vítimas de boatos oriundos de igrejas. Têm origem em crentes (?!) que, ou os inventam ou porque entenderam mal determinada informação, passam o boato adiante como se de um facto se tratasse não se preocupando, sequer, em averiguar primeiro se o tal terá mesmo fundamento. É claro que quando o boato chega aos vários destinatários já não leva essa roupagem, parecendo mais uma notícia fidedigna.

Estas atitudes vão sendo tomadas, um pouco por todo o lado, com a complacência de quase todos. Quando os visados acabam por saber dos boatos que sobre eles circulam (na maior parte dos casos eles próprios são apanhados de surpresa, eu sei do que falo) já os boatos se transformaram em notícias de que ninguém ousa duvidar.

Assim sendo vou aqui reproduzir, com a devida vénia, o cartaz do MFA (sem lagarto e bota militar) dirigindo-o à população evangélica: É preciso esmagar o boato. E se me perguntarem porquê eu respondo: “Porque o boato é uma das armas do inimigo de Deus e nosso para prejudicar a vida espiritual dos atingidos e a obra de Deus no seu todo.

Esta verdade não será suficiente para que o boato seja, entre nós, esmagado à nascença?


José Carlos Oliveira
Igreja Evangélica Leça da Palmeira-Portugal

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