Três dos quatro evangelhos relatam um acontecimento na hora da morte de Jesus na cruz: “E o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo” (Marcos 15:38; cf. Mateus 27:51 e Lucas 23:45).
Durante a vida de Jesus, o Santo Templo em Jerusalém era o centro da vida religiosa dos judeus. Era ali que os sacrifícios de animais eram executados e onde a adoração, de acordo com a Lei de Moisés, era seguida fielmente. Hebreus 9:1-9 nos diz que no Templo um véu separava o Santo dos Santos – a habitação terrena da presença de Deus – do resto do Templo (o Santo Lugar) onde os homens habitavam. Por Deus ser o supremo e absolutamente santo rei, os homens pecadores não teriam acesso a Ele. O véu representava exatamente essa separação (cf. Isaías 59:1-3). Quando pecamos, criamos uma barreira entre nós e Deus. O véu do Templo foi um símbolo que o Espírito Santo usou para nos ensinar sobre essa separação (Hebreus 9:8-9).
Vários sacerdotes entravam diariamente na primeira parte, o Santo Lugar (Hebreus 9:6). Mas somente o sumo sacerdote entrava na segunda parte, o Santo dos Santos. Ele tinha a permissão de passar pelo véu apenas uma vez por ano (Êxodo 30:10; Hebreus 9:7), entrar na presença de Deus representando Israel e fazer expiação pelos seus pecados (Levítico 16; Hebreus 9:7).
O Templo de Salomão tinha 30 côvados de altura (1 Reis 6:2), mas Herodes tinha aumentado sua altura para 40 côvados, de acordo com os escritos de Josefo, um historiador do primeiro século. Não temos certeza a que um côvado se compara em metros e centímetros, mas podemos supor que esse véu tinha mais ou menos 18 metros de altura. Josefo também nos diz que o véu tinha 12 centímetros de grossura, e que cavalos puxando o véu dos dois lados não podiam parti-lo. A narrativa no livro de Êxodo nos ensina que esse grosso véu era feito de material azul, roxo e escarlate e de linho fino torcido.
O tamanho e grossura do véu deram muito mais importância aos eventos que aconteceram no exato momento da morte de Cristo na cruz. “E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo” (Mateus 27:50-51).
Quando Jesus morreu, o véu foi rasgado de alto a baixo, mostrando que foi pela intervenção divina que a barreira foi removida. Os homens nunca conseguiram resolver o problema do pecado por mérito próprio. Atos 20:28 nos diz que Deus, com Seu próprio sangue derramado na cruz, nos resgatou. Assim Ele provou o Seu por nós (Romanos 5:8).
O autor do livro de Hebreus explica mais sobre esse efeito da morte de Cristo. Ele falou da esperança prometida “… a qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu, onde Jesus, como precursor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre…” (Hebreus 6:19-20). Aqui ele mostra que o véu do Templo representava algo bem maior, uma separação entre os homens e Deus no céu. Jesus entrou na presença do Pai no céu, abrindo acesso para homens pecadores serem purificados e entrar no mesmo destino. O mesmo autor disse: “Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção” (Hebreus 9:11-12).
O véu de separação foi rasgado e o que ficou no seu lugar foi o corpo de Cristo, sacrificado na cruz para nos oferecer a reconciliação. No lugar do véu de separação ficou a ponte de ligação entre homens pecadores perdoados pelo sangue de Jesus e o próprio Deus: “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne” (Hebreus 10:19-20).
A morte de Jesus na cruz foi o singular evento mais importante da História, pois foi por esse sacrifício que Deus ofereceu para nós o perdão dos pecados, a reconciliação com o Criador e a esperança da vida eterna.
Acima de tudo, o rasgar do véu no momento da morte de Jesus dramaticamente simboliza que Seu sacrifício e o derramamento do seu próprio sangue serviram como uma expiação suficiente pelos pecados para sempre: “Pois Cristo não entrou em santuário feito por homens, uma simples representação do verdadeiro; ele entrou no próprio céu, para agora se apresentar diante de Deus em nosso favor; não, porém, para se oferecer repetidas vezes à semelhança do sumo sacerdote que entra no Santo dos Santos todos os anos, com sangue alheio. Se assim fosse, Cristo precisaria sofrer muitas vezes, desde o começo do mundo. Mas agora ele apareceu uma vez por todas no fim dos tempos, para aniquilar o pecado mediante o sacrifício de si mesmo.” (Hebreus 9:24-26). Significa que o caminho para o Santo dos Santos estava aberto para todas as pessoas, em todos os tempos, tanto aos judeus quanto aos gentios.
Quando Jesus morreu, o véu rasgou e Deus saiu daquele lugar para nunca mais habitar em um Templo feito por mãos humanas (Atos 17:24). Deus deu um fim ao Templo e seu sistema religioso e de adoração. O Templo e Jerusalém ficaram “desolados” (destruído pelos Romanos) em 70 d.C., assim como Jesus tinha profetizado em Lucas 13:35. Enquanto o Templo continuasse a existir, isso significava a continuação da Antiga Aliança. Hebreus 9:8-9 se refere à Aliança que estava passando e à Nova Aliança que estava sendo estabelecida (Hebreus 8:13).
De uma certa forma, o véu era um símbolo de Cristo como sendo o único caminho ao Pai (João 14:6). Isso é simbolizado pelo fato de que o Sumo Sacerdote tinha que entrar no Santo dos Santos através do véu. Agora Cristo é o nosso superior Sumo Sacerdote (Hebreus 7:26-28). Podemos então entrar no Santo dos Santos através dEle. Hebreus 10:19-20 diz que os fiéis entram no santuário através do “sangue de Jesus, pelo caminho que ele nos inaugurou, caminho novo e vivo, através do véu, isto é, da sua carne”. Vemos aqui a imagem da carne de Jesus sendo rasgada a nosso favor no momento em que Ele partia o véu por nós.
Jesus Cristo, através de sua morte, removeu as barreiras entre Deus e o homem. Por isso, podemos agora nos aproximar dEle com confiança e audácia (Hebreus 4:14-16).
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