Os dois temas não estão em mundos diferentes, eles se completam, se reclamam mutuamente. Quando unidos, geram líderes altamente produtivos – e profundamente fecundos. Tenho falado e escrito sobre espiritualidade. Percebo certa resistência a este tema: via de regra ele é tratado como algo intimista, privado, não prático, mais próprio do mundo da contemplação do que da ação. Talvez isto explique a razão do baixo interesse que desperta em pessoas postas na posição de liderança. É uma característica marcante de qualquer líder o foco na ação. Planejamento, mobilização, decisão e capacidade de realização estabelecem um ritmo frenético totalmente baseado no fazer. Resultados tornam-se os grandes indicadores do sucesso do seu esforço e, consequentemente, são os elementos estruturadores de sua identidade. Líderes são pessoas de ação, não tem tempo a perder com contemplação. Conclusão errônea: liderança e espiritualidade habitam em duas esferas diferentes. A fim de desfazer este equívoco, "mergulhei" na rica tradição da espiritualidade cristã para identificar líderes que fizeram da espiritualidade o alicerce de sua liderança. Percebi que líderes realmente espirituais conseguiram equilibrar, de maneira impressionante, dois aspectos fundamentais: fecundidade e produtividade. Produtividade é a capacidade de produzir resultados; com ações eficientes, fazer coisas acontecerem. O resultado da produtividade é o produto. Líderes produtivos sempre têm produtos a apresentar. O problema é que máquinas e não somente pessoas podem gerar produtos. A fecundidade, por sua vez, é a capacidade de gerar e transmitir vida. Líderes fecundos são aqueles que produzem resultados externos sem causar o empobrecimento de sua vida interior. Não raro encontro pessoas altamente produtivas, mas vazias interiormente, enfrentando um cansaço que vai além do físico. Perderam-se na produtividade sem fecundidade. Paradoxalmente, apesar de toda sua produtividade exterior, encontram-se em um estado de esterilidade interior, que é oposto da fecundidade. Podemos fazer muitas coisas, produzir muito, porém, sem gerar vida. O legado da fecundidade são frutos, não produtos. O fruto é sempre um "resultado" de uma conexão vital. É a uva que nasce da conexão do ramo à videira. Para haver fruto é necessário haver vida. Eis porque os líderes fecundos realizaram coisas maravilhosas, criaram projetos bem sucedidos, demonstraram resultados, mas preservaram amizades, aprofundaram vínculos, não se tornaram pessoas intratáveis. Souberam orar e trabalhar, agir e contemplar, serem produtivas e ao mesmo tempo fecundas. É como disse muito bem Henry Nouwen: Não quero insinuar que a produtividade seja condenável ou tenha de ser menosprezada. Pelo contrário, produtividade e sucesso têm meios para realçar nossa vida enormemente. Porém, quando o nosso valor enquanto seres humanos depende daquilo que fazemos com nossas mãos e mentes, tornamo-nos vítimas da estratégia de medo empregada em nosso mundo. Quando a produtividade é a maneira principal que dispomos para sobrepujar as nossas próprias incertezas, ficamos extremamente vulneráveis à rejeição e às criticas e propensos à ansiedade e depressão. A produtividade não pode nunca proporcionar o sentimento profundo de pertença pelo qual ansiamos. Quanto mais produzimos, mais nos damos conta de que sucesso e resultados não conseguem dar-nos a sensação interna de estarmos no aconchego do lar. Com efeito, nossa produtividade, muitas vezes, revela-nos que somos impelidos pelo medo. Neste sentido, esterilidade e produtividade são o mesmo: ambas podem ser indícios de que duvidamos de nossa capacidade de viver uma vida fecunda. Liderança e espiritualidade não estão em mundos diferentes: se complementam, se reclamam mutuamente. Quando unidas, geram líderes altamente produtivos – e profundamente fecundos. | Autor: Eduardo Rosa
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