por Mark Driscoll
O que a Escritura fala sobre Adão e Eva e o qual era a intenção de ensinar sobre eles?
Enquanto as questões em jogo são muitas vezes meio confusas, é evidente, quando olhamos para a Escritura, que ela ensina a verdade de que Adão – e conseqüentemente Eva – foram as primeiras pessoas e que eles foram também as primeiras pessoas.
Adão como a primeira pessoa
Uma das principais razões por que o Cristianismo precisa afirmar que Adão foi a primeira pessoa a existir é a doutrina da queda e do pecado original.
Gênesis 3.17 diz: “E ao homem declarou: “Visto que você deu ouvidos à sua mulher e comeu do fruto da árvore da qual eu lhe ordenara que não comesse, maldita é a terra por sua causa; com sofrimento você se alimentará dela todos os dias da sua vida”. Aqui vemos que Deus, como conseqüência do pecado de Adão, profere uma maldição sobre Adão e sobre toda a humanidade.
Cristãos levam a sério o fato de que Deus fez todas as coisas boas e sem pecado (Gênesis 1.31), e isso tem importantes ramificações para a consumação e a nova criação (Apocalipse 21). Entretanto, Adão, como o primeiro ser humano, trouxe o pecado ao mundo e corrompeu a criação perfeita de Deus. Romanos 5.12 diz que “o pecado entrou no mundo por um homem [Adão], e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram”. E Romanos 6.23 diz que “o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”.
Baseado no que a própria Escritura ensina, o Cristão deve ser capaz de afirmar a verdade de que Adão foi o primeiro homem, por quem o pecado entrou no mundo, para poder falar de Cristo como o “último Adão”, por quem o pecado e sua maldição – a morte – foram derrotados. (1 Coríntios 15.45).
Adão como a primeira pessoa
Há, no mínimo, cinco argumentos bíblicos que afirmam que Adão não foi apenas a primeira pessoa, mas foi também a primeira pessoa – um ser humano real: o relato de Gênesis, a genealogia de Lucas, a teologia de Paulo, e a afirmação de Cristo sobre Adão em Mateus e Marcos.
O Relato de Gênesis
Como já discutido, Gênesis afirma que Adão e Eva eram pessoas reais, no relato da criação nos capítulo 1 ao 3. Além disso, Gênesis afirma a realidade de Adão como pessoa ao dizer-nos o número de anos que ele viveu fisicamente: “Viveu ao todo 930 anos e morreu” (Gênesis 5.5), e ao dar relatos de que Adão era pai de outros personagens na Bíblia, que eram tratados como pessoas reais e físicas, não como figuras míticas (Gênesis 4.1, 25; 5.3-4). É impossível tomar o relato de Gênesis sobre Adão como sendo uma representação mítica da humanidade, já que ele é pai de filhos específicos que são parte de uma genealogia histórica. Fazer isso é, claramente, separar o relato da criação do contexto do resto do livro, ignorar a intenção do autor de Gênesis e – como veremos – do resto dos relatos bíblicos relacionados a Adão.
Genealogia de Lucas
A genealogia de Lucas, no capítulo 3 de seu evangelho, é freqüentemente reconhecida como aquela que explicitamente expressa a humanidade de Jesus Cristo. Enquanto a genealogia de Mateus liga Jesus a Israel e o prólogo de João refere-se a Jesus como Deus, a intenção de Lucas é dar um relato histórico da vida de Cristo. Então ele liga Jesus a José, Davi, Abraão e, por último, Adão. Não faria sentido para Lucas mencionar pessoa real após pessoa real para então chegar ao clímax de sua genealogia mencionando uma figura mítica. Aquele que nega que Adão era uma pessoa real tem motivos também para questionar se as restantes figuras de Lucas são pessoas que realmente existiram.
A teologia de Paulo
Mais além, se alguém nega que Adão foi uma pessoa real, é difícil fazer sentido a analogia de Paulo da relação entre Cristo e Adão. De acordo com Paulo, como já mencionamos, o pecado veio ao mundo através de uma pessoa real (Romanos 5.12). Mas mais do que isso, em 1 Coríntios 15.22, 45 e Romanos 5.12-21, Paulo faz uma conexão direta entre Adão e Cristo:
1 Coríntios 15.22: “Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados”.
1 Coríntios 15.45: “Assim está escrito: ‘O primeiro homem, Adão, tornou-se um ser vivente’ o último Adão, espírito vivificante”.
Romanos 5.12–21: “Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram; pois antes de ser dada a Lei, o pecado já estava no mundo. Mas o pecado não é levado em conta quando não existe lei. Todavia, a morte reinou desde o tempo de Adão até o de Moisés, mesmo sobre aqueles que não cometeram pecado semelhante à transgressão de Adão, o qual era um tipo daquele que haveria de vir.
Entretanto, não há comparação entre a dádiva e a transgressão. Pois se muitos morreram por causa da transgressão de um só, muito mais a graça de Deus, isto é, a dádiva pela graça de um só homem, Jesus Cristo, transbordou para muitos! Não se pode comparar a dádiva de Deus com a conseqüência do pecado de um só homem: por um pecado veio o julgamento que trouxe condenação, mas a dádiva decorreu de muitas transgressões e trouxe justificação. Se pela transgressão de um só a morte reinou por meio dele, muito mais aqueles que recebem de Deus a imensa provisão da graça e a dádiva da justiça reinarão em vida por meio de um único homem, Jesus Cristo.
Conseqüentemente, assim como uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens, assim também um só ato de justiça resultou na justificação que traz vida a todos os homens. Logo, assim como por meio da desobediência de um só homem muitos foram feitos pecadores, assim também, por meio da obediência de um único homem muitos serão feitos justos. A Lei foi introduzida para que a transgressão fosse ressaltada. Mas onde aumentou o pecado, transbordou a graça, a fim de que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reine pela justiça para conceder vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor”.
Em 1 Coríntios 15, Paulo diz que Adão foi a pessoa que trouxe o pecado ao mundo e Jesus Cristo é a pessoa que traz vida aonde antes reinava a morte. Seria estranho para Paulo comparar alguém que ele conhecia como uma pessoa real (Cristo) com uma figura literária.
Além disso, em Timóteo 2.14, Paulo diz: “E Adão não foi enganado, mas sim a mulher que, tendo sido enganada, tornou-se transgressora”. É incrivelmente difícil argumentar que Paulo não viu esse engano como uma ocorrência histórica real. Novamente, em Atos 17.26, Paulo diz: “De um só fez ele todos os povos, para que povoassem toda a terra, tendo determinado os tempos anteriormente estabelecidos e os lugares exatos em que deveriam habitar”. Aqui, mais uma vez, Paulo fala sobre nações reais descendentes de um único homem.
Cristo sobre Adão e Eva
Mesmo que se ignore Lucas e Paulo, é preciso lidar com Jesus e seus ensinamentos. Em Marcos 10.6 e Mateus 19.4, Jesus refere-se a Gênesis, falando da ordem de Deus na criação de Adão e Eva e relacionando o ato literal à instituição do casamento. É difícil pensar que o próprio Deus (Jesus) poderia errar sobre seu próprio evento de criação, já que ele estava lá como Criador quando aconteceu (João 1.1-2; Colossenses 1.15-17).
Marcos 10.6: “Mas no princípio da criação Deus ‘os fez homem e mulher’”.
Mateus 19.4: “Ele respondeu: “Vocês não leram que, no princípio, o Criador ‘os fez homem e mulher’”.
Conclusão
Quando olhamos para a Escritura em si, fica claro que há inúmeras razões bíblicas por que devemos afirmar que Adão foi tanto a primeira pessoa como a primeira pessoa – e não há evidência textual para sustentar a negação dessa verdade. Além disso, negar esse ensinamento histórico da igreja enfraquece o claro ensinamento da Bíblia e falha em dar sentido à sua narrativa; da mesma forma, sem Adão e Eva históricos, não há queda e não há necessidade de redenção e nem de Jesus. A própria base do cristianismo é efetivamente enfraquecida.
Então, o que devemos fazer diante de uma verdade aparentemente contraditória entre a Ciência e a Escritura? Temos duas opções: trocar as verdades da Escritura pelas verdades científicas e lavar nossas mãos (Paulo deixa claro em Romanos 1.18 e 1.22-23 que muitas pessoas escolhem exatamente essa opção), ou tomamos as verdades da ciência e as colocamos dentro do contexto das verdades da Escritura como a maior autoridade.
Assim como há muitas maneiras de interpretar as formas, cronológicas e metodológicas, pelas quais Deus criou e ainda estar no campo da ortodoxia cristã, afirmando a real intenção das Escrituras – que Deus criou –, há também muitas formas de internalizar as verdades da historicidade de Adão e Eva como ensinadas nas Escrituras. O que não se pode fazer, no entanto, é negar a existência de Adão e Eva e permanecer fiel às Escrituras e seus relatos.
Como C. John Collins, professor de Antigo Testamento no Covenant Theologic Seminary, escreve: “A proposta da história (em Gênesis) é preparar a fundação de uma cosmovisão, sem ser tomada de forma ‘literalista’. Devemos, porém, ver a história como tendo o que podemos chamar de ‘núcleo histórico’”, isto é, que Adão e Eva foram pessoas reais por meio de quem veio a queda e o pecado e nossa necessidade de salvação, que só pode vir por meio de Jesus, sua morte e ressurreição. Qualquer outra história ou cosmovisão está em contradição com a Escritura e deve ser rejeitada.
Traduzido por Carla Ventura | iPródigo.com
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