terça-feira, 24 de maio de 2011
Escatologia da Biblia
Maio 2011
ESCATOLOGIA - DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS
01- O QUE SIGNIFICA "ARREBATAMENTO DA IGREJA"?
Arrebatar quer dizer raptar, levar com ímpeto, com força, arrancar, resgatar, tirar. Para os crentes significa o momento glorioso em que Jesus, na Sua volta, levar a Sua Igreja para junto de Si. O arrebatamento dar-se-á "num abrir e piscar de olhos", em dia e hora que não sabemos. Como a Igreja compreende os vivos e os mortos - os que vivem com Cristo e os que morreram em Cristo - , no momento do arrebatamento "os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro, depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles (com os primeiros, os mortos) nas nuvens, PARA O ENCONTRO DO SENHOR NOS ARES, E ESTAREMOS PARA SEMPRE COM O SENHOR" Aleluia! (1 Tessalonicenses 4.16-17).
02 - COMO SERÁ A DESTRUIÇÃO DA TERRA?
A Bíblia fala de novos céus e nova terra: "Como os novos céus e a nova terra, que hei de fazer..." (Isaias 66.22); "Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça" (2 Pedro 3.13); "Então vi um novo céu e uma nova terra, pois já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe" (Apocalipse 21.1) "Faço novas todas as coisas" (Apocalipse 21.5). Logo, céu e terra passarão. A Bíblia ensina haver três céus: o primeiro, significando a atmosfera que circunda a Terra (Oséias 2.18); o segundo, o céu das estrelas (Gênesis 1.14-18); e o terceiro, também chamado Paraíso, é a habitação de Deus e de todos os salvos (Filipenses 1.23). O "FOGO" será o principal elemento a ser usado por Deus no derramamento de seus juízos sobre a Terra e na destruição de corpos celestes. Vejamos:
"Os céus e a terra se guardam para o fogo" (2 Pedro 3.7)
"Os céus em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão" (2 Pedro 3.12)
"O Senhor virá em fogo, e os seus carros como um torvelinho, para tornar a sua ira em furor, e a sua repreensão em chamas de fogo. Porque com fogo e com a sua espada entrará o Senhor em juízo com toda carne, e os mortos do Senhor serão multiplicados" (Isaias 66.15-16).
"Diante dEle um fogo consome, atrás dEle uma chama abrasa "(Joel 2.3).
Leia: Hebreus 10.26-27; Joel 2.30; Apocalipse 20.9; 2 Tessalonicenses 1.6-8; Lucas 17.29-30
03 - QUAL A SITUAÇÃO DOS QUE MORREM SEM CRISTO?
É a pior possível, difícil até de ser imaginada ou descrita. Os que morrem sem Cristo vão diretamente para um lugar de TORMENTOS, e ali aguardarão a condenação eterna. Nesse lugar, não terão a mínima chance de recuperação ou de salvação. É a morte eterna, ou seja, a eterna separação do Criador.(Lucas 16.22-23). Nesse lugar tenebroso permanecerão até que se completem os mil anos do reinado de Cristo. Após esse período, ressuscitarão para receberem a condenação e serem lançados "no lago que arde com fogo e enxofre, que é a Segunda Morte". (Apocalipse 20.5; 21.8; João 3.18).
04 - QUANDO SURGIRÁ O ANTICRISTO?
O Anticristo será a encarnação de Satanás, e iniciará seu governo aqui na Terra - será um governante mundial - logo após o arrebatamento da Igreja, e exercerá o seu domínio durante sete anos, tempo em que durará a Grande Tribulação. Na metade dos sete anos, esse monstro enganará a muitos, operando sinais e maravilhas. Depois disso, mostrará sua verdadeira face e exigirá que seja adorado como Deus. Leia: Daniel 7.8, 24, 25; Daniel 9.27; Daniel 11.36-45; 2 Tessalonicenses 2.1-12; Apocalipse 11.6-7; 13.7, 15-18; 19.15-21.
05 - O QUE É ESCATOLOGIA?
É o estudo sistemático e lógico das doutrinas relativas às últimas coisas, tais como "Arrebatamento da Igreja", "Tribunal de Cristo", "Grande Tribulação", "Milênio", "Bodas de Cristo", "Julgamento Final", Novos Céus e Nova Terra",etc.
06 - EM QUE ÉPOCA RESSUSCITARÃO OS ÍMPIOS?
Os mortos SEM CRISTO, ou seja, os que não são filhos de Deus, ressuscitarão ao final do Milênio, no fim do reinado milenar de Jesus Cristo. Ressuscitarão para receberem a condenação eterna. "Muitos dos que dormem no pó da terra ressurgirão, uns para a vida eterna, e outros para a vergonha e desprezo eterno" (Daniel 12.2). "Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se completassem" (Apocalipse 20.5) (João 5.28-29). Todavia, os que morrerem em Cristo, ou seja, os filhos de Deus, ressuscitarão na segunda vinda de Jesus (1 Tessalonicenses 4.16-17).
07- COMO SERÁ A SEGUNDA VINDA DE JESUS?
Jesus prometeu voltar. Em várias ocasiões Ele afirmou que voltaria. Não mais para "buscar as ovelhas perdidas", mas para buscar a Sua Igreja e derramar seus juízos sobre a Terra. Na primeira fase de Sua volta, Ele arrebatará o povo de Deus; na Segunda fase, sete anos depois, fará justiça sobre as nações ímpias e estabelecerá Seu reinado por mil anos (1 Tessalonicenses 4.16-17; Apocalipse 20-22). A primeira fase será secreta e só a Igreja sentirá seus efeitos. A segunda fase - conhecida como revelação - todos O verão.
08- O QUE É "ESTADO INTERMEDIÁRIO"?
É a situação em que se encontram todos os mortos, quer tenham morrido em Cristo, quer não. Dá-se o nome de "intermediário" porque as almas nesse estado aguardam o dia em que ressuscitarão, para a vida eterna ou para a perdição eterna (1 Tessalonicenses 4.15-17). Noutras palavras, é o estado das pessoas entre a morte física e a ressurreição. O lugar onde se encontram é identificado no Antigo Testamento como Sheol (no hebraico), e, no Novo Testamento, como Hades (no grego). Esses termos correspondem ao reino da morte (Salmos 18.5; 2 Samuel 22.5-6). Antes da morte-ressureição de Jesus, no Sheol-Hades dividia-se em três partes distintas. Para melhor compreensão imaginemos um círculo dividido em três partes: na parte de cima, o lugar dos justos, conhecido como "Paraíso" (Lucas 23.43), "Seio de Abraão" (Lucas 16.22), "Lugar de Consolo" (Lucas 16.25). Na parte de baixo, o lugar dos ímpios, chamado "Lugar de Tormentos" (Lucas 16. 23). Entre a parte de cima e a de baixo fica o "Lugar de Trevas" (Judas 6), "Cadeias da Escuridão" (2 Pedro 2.4), "Abismo" (Lucas 16.26), "Prisão" (1 Pedro 3.19).
Há quem aceite a interpretação literal de Efésios 4.9 para afirmar que o Sheol-Hades se encontra nas profundezas da Terra, ou seja, no interior do nosso planeta. Para isto citam os seguintes versículos que falam de "sepultura"', "interior da terra", "profundezas" e expressões semelhantes: Gênesis 37.35; Números 16.30,33; Jó 17.16; Salmos 30.3; 86.13; 139.8; Provérbios 9.18; 15.24; Isaías 38.18; Ezequiel 31.15; Amós 9.2. O meu entendimento é que esse lugar é espiritual (não físico). Um lugar no mundo espiritual. Não sabemos exatamente onde fica nem sobre ele conhecemos mais detalhes.
Depois do Calvário houve uma mudança radical na composição do Sheol-Hades: a parte de cima - Paraíso, Seio de Abraão ou Lugar de Consolação - foi trasladada para o terceiro Céu, na presença de Deus. Jesus afirmou que as portas do Hades não prevaleceriam contra a Sua Igreja (Mateus 16.18). Por isso, "quando Ele subiu às alturas levou cativo o cativeiro" (Efésios 4.8). Esclarecendo: quando Jesus subiu aos Céus levou consigo os crentes do Antigo Testamento que estavam no "Seio de Abraão". Esse traslado pode ter ocorrido entre a morte e a ressurreição de Jesus, em razão de Lucas 23.43 e 1 Pedro 3.19. O "Lugar de Tormentos" e o "Abismo" não sofreram alteração com a morte-ressurreição de Jesus. A Bíblia, em Lucas 16.19-31, bem ilustra composição do lugar dos mortos (Sheol-Hades) antes do Calvário: o Seio de Abraão; o lugar de paz em que se encontrava Lázaro, e o "grande abismo" entre as duas partes. Os mortos sem Cristo continuam indo para o Hades. No "Abismo" se encontram alguns dos anjos caídos, "reservados para o Juízo" (2 Pedro 2.4; Apocalipse 9.2). Convém lembrar:
Que os ímpios não podem sair do Hades, uma prisão cuja chave está nas mãos de Jesus (Apocalipse 1.18). O Diabo e seus demônios, esses estão soltos por enquanto e enganam a muitos nos rituais mediúnicos.
Não se pode confundir Sheol-Hades com Purgatório, este lugar intermediário de purificação das almas, segundo o ensino antibíblico da Igreja Católica. A situação para quem está no Paraíso, com Cristo, ou no Hades (Inferno) é definida, irreversível. No Paraíso os fiéis aguardam a Primeira Ressurreição para a vida eterna (1 Tessalonicenses 4.16-17); no Hades os ímpios aguardam a Segunda Ressurreição para o castigo eterno (Apocalipse 20.5,6,13-15).
Hades e Sheol são também traduzidas por inferno, tanto no Antigo Testamento (Deuteronômio 32.22; 2 Samuel 22.6; Jó 11.8; Salmos 16.10), como no Novo Testamento (Mateus 16.18; Provérbios 23.14; Apocalipse 1.18). Todavia, o inferno propriamente dito, a morada final dos ímpios, do Diabo e seus demônios, e do Anticristo, é o Lago de Fogo e Enxofre (Apocalipse 19.20; 20.10,14,15; 21.8).
09- O QUE É "O DIA DO SENHOR"?
Não será um dia comum, um dia terrestre de 24 horas. O Dia do Senhor, de que muito fala a Bíblia, será um período de mais de mil anos. Começará após o arrebatamento da Igreja, e terminará depois da criação dos novos céus e nova terra e do reino milenar de Cristo, passando pela Grande Tribulação, onde o Anticristo estará em plena atividade. Vejamos o que a Palavra diz sobre esse Dia: "O Dia do Senhor dos Exércitos será contra todo soberbo e altivo, e contra todo o que se exalta, para que seja abatido..."(Isaias 2.12); "Pois o Dia do Senhor está perto, e virá como assolação da parte do Todo-Poderoso" (Joel 1.15); "O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor" (Joel 2.31); "Certamente aquele dia vem; arderá como fornalha "(Malaquias 4.1); "Porque vós sabeis muito bem que o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite" (1 Tessalonicenses 5.2). Esse grande e terrível Dia do Senhor diz respeito aos tempos do fim, ao Juízo Final, ao julgamento dos ímpios. Exclui-se desse período o arrebatamento da Igreja, chamado de "Dia de Cristo" pelo apóstolo Paulo (Filipenses 1.6,10). A retirada do povo de Deus da terra faz parte do Plano Divino para a restauração de todas as coisas. Os não arrebatados - os ímpios, os transgressores da lei, os que não quiseram dar ouvidos ao Evangelho; os que se rebelaram contra Deus; os que não aceitaram Jesus como Senhor e Salvador - estes ficarão na terra e experimentarão tempos de muita aflição.
10- QUAL O SIGNIFICADO DE "AS BODAS DO CORDEIRO"?
A expressão "Bodas do Cordeiro" define o encontro da noiva (a Igreja) com o seu noivo (Jesus), agora unidos para sempre. Será a celebração desse casamento, uma festa de grande alegria e glória. "Regozijemo-nos, e exultemos, e demos-lhe glória! Pois são chegadas as bodas do Cordeiro, e já a sua noiva se aprontou" (Apocalipse 19.7). É importante sabermos que enquanto se realiza a celebração das Bodas, os que ficaram na Terra, estarão passando pela mais terrível tribulação de todos os tempos. Nas Bodas, o Senhor cumprimentará a todos, e todos O conhecerão de perto, e falarão com Ele. A alegria desse momento é muito grande. Todavia, o clima será também de expectativa, porque Jesus, após esta celebração, descerá à Terra para a grande batalha contra o Anticristo e seus exércitos, no sombrio vale do Armagedom. "Bem-aventurados os que são chamados à ceia das Bodas do Cordeiro" (Apocalipse 19.9). É bom não esquecermos que ao instituir a Santa Ceia, quando disse aos apóstolos para que, em sua memória, comessem do pão e bebessem do cálice, Jesus prometeu que aquela celebração seria repetida no céu: "E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da vide, ATÉ AQUELE DIA EM QUE O BEBA DE NOVO CONVOSCO NO REINO DE MEU PAI" (Mateus 26.29). Nesta, Jesus preparou-se para o sacrifício da cruz; na Ceia das Bodas, Jesus estará se preparando para derrotar o mal sobre a face da Terra: aniquilar o diabo, o Anticristo, as nações ímpias, e instalar seu reino milenar.
11- O QUE É TRIBUNAL DE CRISTO?
Todos os salvos, após o arrebatamento, comparecerão diante do Redentor, ocasião em que haverá uma avaliação do que fizemos ou não fizemos; uns receberão louvor; outros, censura: "Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal" (2 Coríntios 5.10).
Quem julgará: Cristo, o Justo Juiz (João 5.22; Is 33.22).
Quem será julgado: todos os salvos, sem exceção. "Pois todos havemos de comparecer perante o tribunal de Cristo" (Romanos 14.10).
Onde será o Tribunal: no céu. Em outro lugar não poderia ser. O céu é a morada de Deus, e é para lá que iremos.
Como será o julgamento: tudo será transparente e público, ou seja, o que tivermos feito por meio do corpo, de bom ou ruim, será conhecido por todos os presentes. Nada ficará encoberto: "Todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas" (Hebreus 4.13)
O julgamento dos crentes não será para condenação. A nossa salvação está garantida pelo sacrifício de Jesus. O julgamento será para galardoar aqueles que foram fiéis; que não enterraram seus talentos; que souberam utilizar os dons espirituais e ministeriais recebidos; que, enfim, cumpriram a contento a missão que o Senhor lhes confiou. Estes receberão aprovação divina, recompensa e honra (Mateus 25.21; 1 Coríntios 3.12-14; Romanos 2.10). Os servos negligentes receberão reprovação divina, ficarão envergonhados e sofrerão perdas (1 Coríntios 3.15).
Tudo será revelado: nossos atos mais ocultos; nossas palavras; nosso caráter. Nada ficará encoberto. É o momento de prestarmos contas de nossas ações, de nossa fidelidade; nosso zelo pela obra do Senhor na Terra. Não devemos ficar atemorizados diante da perspectiva desse julgamento. Ali estará o nosso Salvador em quem confiamos. Mas devemos procurar crescer a cada dia como filhos de Deus, separados para o seu Reino. Fiquemos com estas palavras: "Ora, já está próximo o fim de todas as coisas. Portanto, sede sóbrios, e vigiai em oração. Tende, antes de tudo, ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobre uma multidão de pecados. Sede hospitaleiros uns para os outros, sem murmuração. Servi uns aos outros conforme o dom que cada um recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus" (1 Pedro 4.7-10).
12- O QUE SIGNIFICA "O MILÊNIO"?
O que é o Milênio - É o período de mil anos em que Cristo reinará na Terra, ou seja, é o reinado milenar de Cristo Jesus (Apocalipse 20.4).
Quando terá início - Iniciar-se-á depois dos seguintes eventos: Grande Tribulação; prisão do Diabo por mil anos; destruição do Anticristo, de seus exércitos e do falso profeta; julgamento das nações "vivas" (Mateus 24.30; Apocalipse 16.16; 19.20-21; 20.2-3).
Quem participará do Milênio - Participarão:
Os salvos de todas as épocas, compreendendo os fiéis do Antigo Testamento; a Igreja (Novo Testamento), e os salvos vindos da Grande Tribulação, TODOS em corpos celestiais, espirituais, glorificados (1 Tessalonicenses 4.16-17; Apocalipse 19.14; 20.4). Por possuírem corpos glorificados, sobre os quais a matéria não terá domínio, estes salvos, participantes do Milênio, transitarão tanto na Terra como no Céu. Lembremo-nos de que Jesus esteve por quarenta dias (Atos 1.3) na Terra num corpo assim, e como esse mesmo corpo foi elevado aos Céus.
Os judeus salvos da Grande Tribulação; os gentios poupados no julgamento das nações; os nascidos durante o Milênio. Estes, em seus corpos naturais, é claro. Somente os justos serão admitidos no reino de Cristo (Mateus 25.37; Isaías 26.2; 60.21).
Os títulos e nomes de Jesus em razão do Milênio - O Renovo (Isaías 4.2: 11.1; Jeremias 23.5; 33.15; Zacarias 3.8,9; 6.12,13); Senhor dos Exércitos (Isaías 24.23; 44.6); O Ancião de Dias (Daniel 7.13); O Altíssimo (Daniel 7.22-240); O Rei (Isaías 33.17; 44.6; Daniel 2.44); O Juiz (Isaías 11.3,4; 16.5; 33.22; 51.4,5); O Messias Príncipe (Daniel 9.25.26). Rei dos reis e Senhor dos senhores (Apocalipse 19.16).
As principais características e propósitos do Milênio - A finalidade maior é restaurar: restaurar a paz, a justiça, a prosperidade, a longevidade. Violência, nunca mais; fome, epidemias, terremotos, inundações, escassez de água, poluição, drogas, vícios de qualquer natureza; falta de alimentos; secas; pragas, injustiças sociais; corrupção; assaltos, estupros; ocultismo; desamor, abortos; desequilíbrio ecológico, crianças desamparadas... nunca mais! Haverá perfeita harmonia do homem com a Natureza; do homem com seu Criador; dos animais com o homem; entre os homens haverá perfeito amor fraternal.
Embora as pessoas do Milênio continuem com suas naturezas pecaminosas herdadas do primeiro casal, não mais sofrerão as influências maléficas do Diabo (2 Co 4.4). Isto não quer dizer que ninguém cometerá pecado. Ímpios ainda surgirão nesse período, porém em número bem reduzido. Especificaremos alguns dos benefícios oriundos do reino milenar de Cristo:
A Terra não mais será amaldiçoada. As maldições como castigo pela desobediência do primeiro casal serão removidas (Gênesis 3.14, 17-18; Isaías 55.12-13).
Haverá profundas transformações nos rios, nos mares e nas águas subterrâneas: "Abrirei rios nos altos desnudos, e fontes no meio dos vales. Tornarei o deserto em açudes de água, e a terra seca em mananciais" (Isaías 11.15; 41.18; Ezequiel 47.1-12). Isto significa água abundante para todos e fartura de peixe, de frutas, de cereais.
Haverá perfeita comunhão entre os animais e entre estes e os homens. Os animais antes ferozes não atacarão os homens (Isaías 11.6-8).
O conhecimento de Deus alcança a todos, porque o Diabo não mais poderá "cegar o entendimento" das pessoas (2 Coríntios 4.4; Isaías 11.9; Jeremias 31.34).
O gênero humano no Milênio se multiplicará rapidamente. Não haverá mulheres estéreis: "Multiplicar-lhes-ei os homens como rebanho... as cidades desertas se encherão de homens"; "as praças de Jerusalém se encherão de meninos e meninas" (Ezequiel 36.37-38; Zacarias 8.4-5).
As doenças serão bastante reduzidas. Muitas enfermidades crônicas serão curadas (Isaías 33.24; 35.5-6).
Os habitantes da Terra viverão mais tempo. Estarão livres dos alimentos contaminados e de outros males que impedem uma vida longa: "aquele que morrer com cem anos, será tido por jovem" (Isaías 65.20-22).
Haverá perfeita comunicação entre Deus e seus filhos: "Antes que clamem, responderei; estando eles ainda falando, os ouvirei" (Isaías 65.24). Aleluia!
Cessarão as hostilidades entre os países. Enfim, haverá paz e prosperidade na Terra (Isaías 2.4; 35.1-2).
A justiça predominará: "Reinará um rei com justiça" (Isaías 32.1).
O Senhor Jesus conterá a fúria dos furacões, dos tornados, terremotos, maremotos, vulcões, e de todos os fenômenos naturais que abalam e devastam a humanidade (Isaías 32.2; 25.4).
Então, devemos continuar orando: VEM, SENHOR JESUS (Apocalipse 22.20).
13- COMO SE DARÁ O JULGAMENTO DAS NAÇÕES?
"Congregarei todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá; e ali com elas entrarei em juízo, por causa do meu povo e da minha herança, Israel, a quem eles espalharam entre as nações, repartindo a minha terra. Ajuntai-vos, e vinde, todos os povos em redor, e congregai-vos (ó SENHOR), faze descer ali os teus fortes! Movam-se as nações e subam ao vale de Josafá; porque ali me assentarei, para julgar todas as nações em redor. Multidões, multidões no vale da Decisão! Porque o dia do SENHOR está perto no vale da Decisão" (Joel 3.2, 11,12, 14).
Em Mateus 25 Jesus revelou que na sua vinda em glória, com todos os santos anjos, as nações reunidas diante dele serão assim divididas: nações-ovelhas (os justos) ficarão à sua direita; as nações-bodes (os ímpios) à esquerda; e os "irmãos", que devem ser o povo judeu, irmãos de Jesus segundo a carne. Os justos irão para a vida eterna; os ímpios para o castigo eterno. (Mateus 25.31-46). Estarão ali, também, as nações que não se aliaram ao Anticristo e que sempre reconheceram Israel como a herança de Deus. A essência desse juízo é o julgamento dos opressores do povo judeu (Leia Joel 3.2; Gênesis 13.3; Zacarias 12.3).
Apocalipse 20.11-15 trata do julgamento do Grande Trono Branco - o Juízo Final: "Os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras. E todo aquele que não foi achado inscrito no livro da vida, foi lançado no lago de fogo" (vv. 12,15).
Tem havido entre os estudiosos da Bíblia interpretações discordantes quanto ao julgamento das nações de que trata Joel 3. Uns crêem que este juízo associa-se ao Juízo Final de Apocalipse 20.11-15 e Mateus 25.31-46, sendo este apenas uma continuação daquele. Todavia, há diferenças entre um e outro julgamento, ou seja, entre o julgamento das nações e o do Grande Trono Branco. Vejamos:
Juízo de Mateus 25.31-46 (Joel 3) Juízo de Ap 20.11-15
Julgamento dos vivos Julgamento dos mortos
Antes do Milênio Depois do Milênio
Na terra No espaço
Ovelhas, bodes e irmãos presentes Só os perdidos
Julgamento coletivo Julgamento individual
Sem ressurreição, exceto dos mártires da Grande Tribulação (Ap 20.4) Após a 2a ressurreição
Esse primeiro julgamento de Mateus 25.31-46 objetiva selecionar as nações que ingressarão no Milênio, ou seja, as que farão parte no reino milenar de Cristo. Vejam: "Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o REINO que vos está preparado desde a fundação do mundo"(Mateus 25.34).
14- COMO ENTENDER A BATALHA DO "ARMAGEDOM"?
A guerra do Armagedom (Apocalipse 16.16)
Armagedom significa "vale do Megido". Megido ou Esdrelon é uma planície de Israel, em Samaria, na região da Palestina. Esse vale foi palco de sangrentas guerras no passado. No sentido profético, Armagedon significa derrubar, matar, cortar, decepar, lugar de mortandade. Este lugar de matança é chamado de "lagar" em Apocalipse 14.20.
Profecias - "Chegará o estrondo até a extremidade da terra. O Senhor entrará em juízo com toda a carne, e os ímpios entregará à espada"(Jeremias 25.31-38; Joel 3.1-16; Sofonias 3.8). "Eu ajuntarei todas as nações para a peleja contra Jerusalém...então o Senhor sairá, e pelejará contra estas nações" (Zacarias 14.2-5).
Quando será iniciada - Na segunda metade da Grande Tribulação, provavelmente já no final desse período. Será uma guerra de curta duração. Os judeus não suportariam uma guerra prolongada, haja vista o poderio bélico dos adversários.
A finalidade do confronto - A guerra será centralizada na terra de Israel, porém com desdobramentos e combates por todo o mundo (Jeremias 25.31). Os exércitos de todas as nações aliadas ao Anticristo marcharão sobre Israel, objetivando a destruição de Jerusalém e do povo de Deus. O Anticristo colocará em guerra todo o seu poder de fogo: armamentos sofisticados; bombas de última geração, tudo muito superior ao que hoje conhecemos. Tal confronto atende aos planos de Deus.
O sentido figurado - Não nos alinhamos entre os que rejeitam a idéia de uma batalha literal, onde tropas fiéis ao Anticristo estariam realmente marchando sobre Israel. Acreditamos que haverá, de fato, uma grande batalha mundial, envolvendo cristãos e anticristãos; uma guerra de grandes proporções como jamais ocorreu na história da raça humana. O Senhor Jesus intervirá no momento certo: o Anticristo e seus exércitos serão aniquilados, e muitos judeus se converterão e serão salvos.
15- COMO ENTENDER AS "70 SEMANAS DE DANIEL"?
Por sua fundamental importância nos estudos da Escatologia, e pelas dificuldades em sua interpretação, a profecia das SETENTA SEMANAS de Daniel desperta muito interesse. Entre os teólogos não há consenso quanto alguns aspectos. Por exemplo, um grupo segue a interpretação contínua, segundo a qual a septuagésima semana segue a sexagésima-nona, sem nenhum intervalo. Outro, defende a teoria do intervalo, ou seja, 69 semanas já se cumpriram, mas falta o cumprimento da septuagésima semana. Estamos acordes com a interpretação que admite um intervalo.
O CONTEXTO - Jerusalém estava praticamente destruída. Seu povo, inclusive o profeta Daniel, foi levado cativo para a Babilônia, sob as ordens de Nabucodonosor, a quem deveria servir por 70 anos (2 Crônicas 36.17-21; Jeremias 25.11). Daniel inquieta-se porque os 70 anos de cativeiro são findos e não recebe de Deus qualquer palavra sobre a restauração da Cidade Santa e restauração espiritual do povo. Daniel intercede pelo seu povo e Deus responde, através do anjo Gabriel.
A PROFECIA - Daniel 9.24: "Setenta Semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para extinguir a transgressão, e dar fim aos pecados, e para expiar a iniqüidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santo dos santos". 9.25: "Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até o Messias, o Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as ruas e as tranqueiras se reedificarão, mas em tempos angustiosos".
9.26: "E depois das sessenta e duas semanas será tirado o Messias, e já não estará; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas assolações".
9.27: "E ele fará firme aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até a consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador".
A INTERPRETAÇÃO - As 70 semanas são 490 anos, considerando-se tratar-se de semanas de anos ("setenta setes") e não semanas de dias. Esses 490 anos estão divididos em dois períodos:
o primeiro período é de 69 semanas, igual a 483 anos ou 173.880 dias, considerado ano profético de 360 dias (69 x 7 x 360). Esse período - que é o marco inicial das 70 semanas - inicia-se com a "saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém" (Daniel 9.25), e teve seu cumprimento em Neemias 2.1-8 (Ano vigésimo do Artaxerxes, mês de nisã). Esse período termina com a manifestação do Messias como Príncipe de Israel (Lucas 19.28-40; Zacarias 9.9) Este primeiro período de 69 semanas é dividido em duas partes na profecia: uma de sete semanas (49 anos), e outra de 62 semanas (434 anos). Logo após esse primeiro período de 69 semanas, o "Messias foi tirado" (morto) e a cidade santa destruída: a morte de Jesus na cruz ( Lucas 23.46) e a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C.).
entre o primeiro e segundo período, existe uma lacuna profética, um intervalo. É um tempo de duração indefinida quanto à quantidade de semanas/anos. Esse intervalo se prolongará até o arrebatamento da Igreja e o conseqüente aparecimento do anticristo, quando terá início a última semana da profecia, a septuagésima semana.
o segundo e último período da profecia, a tão conhecida SEPTUAGÉSIMA SEMANA DE DANIEL, iniciar-se-á com o surgimento do anticristo, "o príncipe que há de vir" (Daniel 9.26, Apocalipse 6.2), e terminará com a volta do Messias, com poder e glória, para Seu reinado milenar (Apocalipse 20.1-6). Esta semana, ou sete anos, será dividida em dois períodos distintos de três anos e meio, ou 1260 dias, ou 42 meses. O anticristo fará uma aliança com Israel por todo o período de sete anos, mas na metade desse tempo quebrará o acordo e fará cessar a adoração a Deus (Daniel 9.27; Apocalipse 11.2; 12.6; 12.14; 13.5).
Observações:
1) As 70 semanas que estão determinadas têm os seguintes propósitos (Daniel 9.24):
extinguir a transgressão
dar fim aos pecados
expiar a iniqüidade
trazer a justiça eterna
sela a visão e a profecia
ungir o Santo dos santos
2) As 69 semanas (173.880 dias) contadas "desde a saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém", em 14.3.445 a.C. (veja obs. n. 8, abaixo), findam exatamente no dia 6 de abril de 32 d.C., dia da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Vejamos os cálculos feitos por Alva J. Marcos Clain (cálculo dos dias decorridos entre 14.3.445 a.C. e 6.4.32 d.C.):
445 a.C. a 32 d.C 476 anos (AC 1 até DC 1 = 1 ano)
476 x 365 173.740 dias
Aumento dos anos bissextos 116 dias (3 a menos em 4 séculos)
14 de março a 6 de abril 24 dias
TOTAL 173.880 dias
(Considerar que o ano do século (100, 200, 300, 400...) não é bissexto, exceto quando divisível por 400. Na transformação para dias do nosso calendário, o ano passa a ser de 365 dias).
3) Os capítulos 6 a 19 do Apocalipse dizem respeito à septuagésima semana de Daniel, ou seja, os eventos escatológicos ali mencionados (o derramar dos juízos de Deus, por exemplo) ocorrerão durante aquele último período da profecia. Diríamos que no Apocalipse a profecia das setentas semanas está no varejo, ampliada, detalhada.
4) A profecia relaciona-se diretamente com a nação de Israel e a cidade de Jerusalém (Daniel 9.24). Antes de iniciar a septuagésima a Igreja será arrebatada (1 Tessalonicenses 1.10; Apocalipse 3.10).
5) Note-se que o tempo da Igreja, a destruição de Jerusalém e o Calvário estão incluídos no intervalo: entre o fim da 69a semana e o começo da seguinte, da septuagésima. Este tempo é também chamado de lacuna profética.
6) A Bíblia não relata, mas há o registro histórico da tomada de Jerusalém pelo general romano Tito, no ano 70 d.C., depois de um cerco de cinco meses, com o emprego de uns 100.000 homens. Estima-se em um milhão a perda de vidas nessa catástrofe. Cumpriu-se assim Daniel 9.26: ..."o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário" (v. Lucas 21.20).
7) Nosso Senhor legitimou a profecia das Setentas Semanas ao fixar a Grande Tribulação dentro da Septuagésima (Mateus 24.15-22; Marcos 13.14-20).
8) Neemias 2.1-8: Artaxerxes I, rei da Pérsia, foi elevado ao trono em 465 a.C. Logo, o "ano vigésimo do rei" deu-se em 445 a.C. E como não está indicado o dia do mês, fica entendido ser o primeiro dia do mês nisã (conforme costume judaico), que em nosso calendário corresponde a 14 de março. Daí porque o ponto de partida da profecia, ou seja, a "ordem para reedificar Jerusalém" (Daniel 9.25) é o dia 14 de março de 445 a.C. Conforme cálculo, o fim das 69 semanas, contadas a partir de 14.3.445 a.C., deu-se em 6 de abril de 32 d.C., data em que Jesus foi aclamado Rei em Jerusalém: "Bendito o Rei que vem em nome do Senhor" (Lucas 19.28-40).
9) A resposta sobre as Setentas Semanas de Daniel não se esgota nestas palavras. O livro de Daniel é uma fonte inesgotável para pesquisa e debate.
Fonte: "As Setenta Semanas de Daniel", de Alva J. Mc Clain; Bíblia de Estudos Pentecostal.
16- O QUE SIGNIFICA "QUANTO AOS TÍMIDOS"?
A consulente reporta-se a Apocalipse 21.8: "Mas, quanto aos MEDROSOS, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos adúlteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, que é a Segunda morte." Na versão RC (Almeida Revista e Corrigida), temos "Quanto aos TÍMIDOS"; na versão BLH (Bíblia na Linguagem de Hoje), temos "quanto aos COVARDES"; na versão RA (Almeida Revista e Atualizada, lê-se "Quanto aos COVARDES"; na versão ASV (American Standard Version), "Quanto aos TÍMIDOS (medrosos, receosos)".
Tímidos, medrosos e covardes, no caso específico, são palavras semelhantes. O entendimento é que Deus condena aqueles que não aceitam as verdades bíblicas com receio de serem criticados, desaprovados ou repreendidos pelos ímpios. Temem perder posições sociais, status, amizades, prestígio. São os que se envergonham de sua condição cristã; não dão testemunho de Cristo em suas vidas. Esses são os tímidos, covardes e medrosos. Jesus afirmou: "Qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do homem, quando vier na sua glória e na do Pai e dos santos anjos"(Lucas 9.26).
�� 5.000" Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin�� 5.000" Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin
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Edição: 12-09-2002 ©Copyright 2002 por Chrístopher Byron Harbin Todos os direitos reservados. Página 1 de 58
Escatologia:
Estudo Teológico das Coisas Finais (Vida além-túmulo, Parousia,
Ressurreição, Julgamento, Fim do Mundo e o Apocalipse)
Um estudo preliminar das doutrinas centrais referentes às temáticas da escatologia e o
Apocalipse, procurando uma aproximação maior com a base bíblica na elaboração de conceitos
em resposta ao contexto evangélico riograndense e os tratamentos sistemáticos norteamericanos
existentes no mercado evangélico brasileiro. Por questão da influência de interpretações
populares do Apocalipse de João na definição de conceitos escatológicos, um breve comentário
ao livro está incluido neste estudo. Material preparado para uso em aula de teologia sistemática
com alunos do Seminário Teológico Batista do Rio Grande do Sul.
Apostila preparada por:
Christopher B. Harbin
Seminário Teológico Batista do Rio Grande do Sul
Edição impressa sem gráfica: janeiro 2006
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Edição: 12-09-2002 ©Copyright 2002 por Chrístopher Byron Harbin Todos os direitos reservados. Página 2 de 58
©Copyright 2002 por Christopher Byron Harbin.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta apostila pode ser reproduzida sem a autorização do autor.
Citações breves para fins acadêmicos com referência bibliográfica são permitidas.
O autor pode ser contatado conforme abaixo:
harbin@teamgaucho.org
http://www.teamgaucho.org/harbin
http://www.rocksbc.org
RR1 Box 80A
Pamplin, VA 23958
Seminário Teológico Batista do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS
55-51-3222-1254; 55-51-3222-2323
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5.000" Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin
Edição: 12-09-2002 ©Copyright 2002 por Chrístopher Byron Harbin Todos os direitos reservados. Página 3 de 58
Escatologia:
Estudo das Últimas Coisas
A escatologia compreende dois aspectos principais: a escatologia cósmica e a escatologia individual2.
Pretende-se em primeira instância tratar algumas das questões de referência comunal e cósmica. Por
outro lado, pretende-se dar mais ênfase aos aspectos individuais da temática. Neste estudo são os
aspectos individuais que serão enfocados, pois são nestes elementos da temática que o indivíduo se vê
em necessidade pessoal de estar relacionado devidamente com Deus. A escatologia reúne um
apanhado de conceitos que sofreu muita transformação ao longo do trajeto revelacional do povo de
Israel. As expectativas escatológicas foram em muito modificadas através do tempo, incluindo o caso
de muitas correntes que nem mantinham conceitos propriamente escatológicos3.
Não existe um só conceito unificado e sistemático na Bíblia referente a questões de escatologia, mas
vários conceitos com enfoques diferenciados. Estas diferenças se devem ao caráter progressivo da
revelação em termos da escatologia. Ao mesmo tempo, pode-se delinear que há em várias passagens
do Antigo Testamento, da literatura judaica até o primeiro século e do Novo Testamento uma
consciência "de que Deus agirá de forma decisiva no futuro," fazendo surgir um contexto diferente e
novo4. Em muitos casos essas conceitualizações são expressas em termos de uma volta a um tempo
primordial ou ideal, como no Éden5.
Deve-se lembrar que algumas passagens tratam assuntos tais como a ressurreição e julgamento desde
perspectivas completamente distintas. Uma perspectiva trata o assunto de forma aorista, ou resumida
como se tudo acontecesse num só instante-uma grande ressurreição e julgamento6. Outra
perspectiva trata o conceito de forma a destacar a diferenciação temporal do indivíduo-ressurreição
e julgamento para cada indivíduo no momento de sua morte física7. A diferença nessas perspectivas
tem induzido alguns a tratarem um conceito de "estado intermediário" entre a morte e o "grande
julgamento". Tudo pode não passar de perspectivas diferentes de uma mesma coisa, sem qualquer
"estado intermediário". De qualquer forma, Paulo diz em Filipenses 1.23 que partindo desta vida ele
está com Cristo. Mesmo que haja algum estado "intermediário", portanto, tal não vem a ser
diferente do que o estado "final".
No estudo da escatologia, muito tem-se dito e publicado sobre o livro de Apocalipse. Grande parte
dos posicionamentos referidos são simplesmente feitas em ignorância. Pode ser um tanto mais difícil
determinar com precisão o que se pode dizer com certeza, mas deve ser um alerta para todo
1 ERICKSON, OCnE, 10.
2 D. E. Aune em FREEDMAN, "Eschatology: Early Christian Eschatology".
3 David L. Petersen em FREEDMAN, "Eschatology: Old Testament".
4 George W. E. Nickelsburg em FREEDMAN, "Eschatology: Early Jewish Literature".
5 D. E. Aune em FREEDMAN, "Eschatology: Early Christian Eschatology". Veja Isaías 11.6 como exemplo desta forma de expressão.
6 Uma grande ressurreição e um grande julgamento se vê retratado em passagens como Apocalipse 20.5-13.
7 Como se vê na parábola de Lázaro e o homem rico em Lucas 16. Os irmãos do rico estão vivos ainda na terra, enquanto Lázaro e o rico já
receberam "juízo e sentença".
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5.000" Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin
intérprete a vasta literatura que tem sido escrita e descartada, especialmente entre aqueles que querem
definir com base nesta carta a predição da época e as condições do fim do mundo. Vários
"intérpretes" já pronunciaram erroneamente a data certa do fim do mundo. As palavras de Jesus
deveriam ser o suficiente para o cristão: "Vigiai, pois ninguém sabe quando será aquele dia, a não
ser o Pai". Certos assuntos não cabem ao ser humano definir. Afinal, foi para um relacionamente
de fé que fomos convocados. Fé em Deus, não nas minhas definições e ilusões dogmáticas.
Problemas em tratar Escatologia:
Distância Pessoal: Um dos primeiros problemas a serem evitados no estudo de Escatologia, é de
manter o assunto muito distante do indivíduo. Pode-se muito facilmente falar da segunda vinda de
Cristo usando expressões no sentido de que Jesus pode voltar amanhã, porém não se ouve a
necessidade de estar preparado. Em geral pensa-se: "Pode ser que Jesus venha amanhã, mas não é
muito provável. Não é preciso dar muita importância ao assunto." Neste contexto, o estudo da
escatologia vem a ser um estudo bem confortável, pois trata-se de algo polêmico, intrigante, ambíguo
e muito distante. Por outro lado, a Bíblia parece sempre abrir o assunto assinalando a necessidade de
cada um estar preparado. É necessário lembrar que estas "últimas coisas" incluem aspectos que são
refletidos no cotidiano.
Princípios de Interpretação: Outro problema a ser considerado ao estudar assuntos de escatologia
(como também qualquer outro tema bíblico) concerne à necessidade de respeitar os princípios de
interpretação bíblica. Além de sempre ler os versículos e as passagens dentro de seus respectivos
contextos, é necessário lembrar que as passagens de ensino claro sempre tomam precedência no
tratamento de um tema. Por exemplo, 1ª João é muito mais claro ao tratar do anticristo do que o
livro de Apocalipse. Outro ponto a observar é o tipo de literatura que se está estudando ao tratar um
texto. O estilo literário do Apocalipse não é igual a 1ª João e o tratamento dos livros deve respeitar
essa diferença.
Leitura Contextual: Mais um problema a negociar é a necessidade de ler as passagens bíblicas em
relação aos seus propósitos, não em sentido de responder curiosidades pessoais. A Bíblia foi escrita
para tratar da necessidade do homem perante Deus, não para ensinar ciência, história, nem
futurismo. No final de um estudo, nem todas as perguntas, dúvidas e questionamentos serão
respondidos, pois a Bíblia não segue o propósito de responder às curiosidades humanas. Jesus
mesmo disse, "Não vos compete saber os sinais e os tempos" (Atos 1.7). Deus exige do homem uma
dependência e confiança sem se propor necessariamente a aplacar todas as dúvidas e preocupações
humanas.
História: Outro problema a ser evitado está relacionado à história. Berstén e outros fazem distinção
entre profecias que se cumpriram e outras que ainda não se cumpriram. O problema que deve ser
tratado nesse contexto é o de compreender o que já sucedeu na história para então poder fazer uma
melhor declaração entre aquilo que tem e não tem acontecido. Salienta-se aqui a passagem de Mateus
24.1-28 e o contexto da destruição de Jerusalém no ano 70 depois de Cristo8.
Cosmologia: É necessário compreender como o povo, especialmente os autores bíblicos entendiam o
mundo em que viviam. Sua cosmologia implicava na sua terminologia aplicada a conceitos espaciais
e geográficos, como também a certas referências escatológicas. Não é lícito forçar o texto bíblico a
8 LOWRY, 35, Jerusalém foi incendiado na manhã de 26 de setembro de 70.
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5.000" Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin
refletir um conceito cosmológico do século vinte, quando os autores não compartilhavam esse
conceito.
Vocabulário Especializado: Por outro lado, é indispensável que se trate o vocabulário bíblico
conforme o uso dos próprios autores. Certas palavras ou frases eram usadas diferenciadamente da
forma atual. O judeu dividia o tempo em duas partes: antes do Messías e depois do Messías. Por
"últimos tempos" ou "tempos postreros", a Bíblia designa a segunda etapa do tempo. Os últimos
tempos, então, começaram com Jesus e referenciam o tempo desde aquela época até o final do tempo.
Supremacia Bíblica: É sumamente necessário que respeitemos que a palavra final referente a
qualquer assunto teológico é a palavra bíblica. Não é lícito dar mais confiança a sonhos, palavras de
profecia e visões do que ao próprio texto bíblico. Toda outra fonte deve ser submetida às indicações
e às limitações apresentados no tratamento bíblico dos assuntos correspondentes. A Bíblia é a
Palavra de Deus e Deus não se contradiz, ainda que a Bíblia exibe um desenvolvimento teológico no
processo revelacional. Quando houver conflito entre a mensagem bíblica e a palavra ou evento
profético, a dúvida recairá sobre a fonte extra-bíblica.
Respeitar Limitações: Também é necessário lembrar que existem limitações ao que pode ser
conhecido em certas áreas. Atos 1.7 indica que não compete ao ser humano saber e entender a
maioria das questões referentes a eventos futuros. Precisa-se aceitar que Deus simplesmente não
revela detalhes a respeito de toda curiosidade humana. É necessário ler o texto bíblico reconhecendo
o propósito do proprio texto, não jogando por cima do texto um propósito pessoal especulativo sobre
o fim do mundo. O que realmente importa saber está exposto de forma clara: "Vigiai, pois não
sabeis em que dia vem o vosso Senhor!"9.
Em consideração às limitações do intérprete bíblico referente a formas divergentes de compreender o
mundo (ou seja, divergências entre as formas da antigüidade e as atuais), apresenta-se certas
reflexões sobre a forma na qual os autores bíblicos refletiram sobre o mundo. Os textos bíblicos
apresentam muito ensino com o uso de expressões que referenciam ou retratam os conceitos
cosmológicos do povo e de seus vizinhos. Espera-se que este tratamento possa ajudar a compreender
melhor as implicações dos termos usados na Bíblia.
Cosmologias Antigas10:
Em vários casos, será de ajuda na compreensão de um texto saber algo sobre o conceito cosmológico
do povo hebreu na época bíblica. Este conceito, embora diferenciado, está relacionado aos conceitos
cosmológicos dos povos ao seu redor. É importante conhecê-los especialmente ao lidar com
narrativas concernentes à criação, ao dilúvio e tópicos escatológicos que retratam realidades celestias
em terminologias da realidade física conhecida. Evidências deste conceito cosmológico serão
encontradas em outras narrativas e textos ao descrever algo do mundo além-túmulo ou aspectos do
universo criado por Deus.
O conceito hebraico do formato do universo deve ser considerado ao tratar de assuntos tais como a
criação. Os hebreus tinham a mesma percepção "científica" do mundo dos outros povos de sua
época, porém faziam suas distinções. Em matéria do formato físico-estrutural do universo, tinham
9 Mateus 24.42.
10 Observação: Esta seguinte porção do texto sobre as cosmologias antigas procede da apostila, Homilética da Teologia das Narrativas, na versão
de julho de 2002.
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muito em comum com os outros povos. O texto bíblico usa termos como "abismo"11, "expansão"
(em algumas traduções "firmamento")12, "janelas dos céus"13 e outros termos que de certo soam um
tanto estranhos no século presente. Estes termos demonstram a forma antiga de se refletir sobre o
mundoa sua perspectiva do universo criado por Deus. Pode-se ver que certos assuntos atuais,
como a preocupação de encontrar vida em outros planetas, não tem cabimento no texto bíblico pelo
simples fato de que estas perguntas baseiam-se em outra cosmologia, muito distinta daquela dos
hebreus14.
O gráfico apresentado a seguir ajuda na compreensão da perspectiva "científica" dos hebreus
referente ao formato do universo, refletido especialmente em passagens como Gênesis 1-11 e de Jó
38-41, na qual Deus faz perguntas a respeito da criação do universo que Jó não consegue responder.
Os elementos comuns entre os hebreus e os outros povos são diferenciados em seus termos
representativos e especialmente na sua explicação religiosa. É importante lembrar que mesmo
quando o conceito hebraico reflete certas noções tidas em comum com os outros povos, a ênfase das
narrativas hebraicas é a de oferecer uma crítica nos pontos em que divergem deles pela revelação de
Deus.
Este gráfico do conceito
hebraico da estrutura do
universo limita-se a uma
fração mínima da cosmologia
científica atual. Pode-se ver
como a Bíblia utiliza certa
terminologia que se refere ao
conceito cosmológico de
seus autores15. Pode-se ver
no gráfico o título de
"firmamento" (ou
"expansão") para o círculo
dos céus que separa as águas
acima do firmamento da
zona que se denomina hoje
por atmosfera. Estes termos
ajudavam o povo a falar do
mundo ao seu redor, mesmo
que o seu conceito específico
tenha sérios problemas em
face da ciência atual.
Entender a cosmologia
hebraica é de ajuda para compreender as implicações das narrativas que utilizam a terminologia do
mesmo conceito. Quando o autor bíblico refere-se às janelas do céu, é bom saber que faz referência
ao seu conceito de como a água acima do firmamento chega até a terra em forma de chuva.
11 Refletido em passagens como Gênesis 1.2; 7.11; 8.2; 49.25; Deut. 33.13; Jó 28.14; 38.16; 38.30; 41.31-32; Salmo 36.6; 42.7.
12 Refletido em passagens como Gênesis 1.6-8, 14-15, 17, 20; Salmo 19.1; 150.1; Ezequiel 1.22-26; 10.1; Daniel 12.3.
13 Refletido em passagens como Gênesis 7.11; 8.2; 2a Reis 7.2, 19; Malaquias 3.10.
14 Segue-se o quadro: "Cosmologia Hebraica", conforme BANDSTRA, 56, KASCHEL, 159 e WEST, 81.
15 Gênesis 1.2,6-8,16-17, 7.11; Êxodo 20.4.
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A cosmologia é uma área da
ciência que influi muito em vários
aspectos da comunicação humana,
pois muitos dos seus conceitos
alteram a forma de conceber o que
acontece em volta do indivíduo e a
sua sociedade. A cosmologia
hebraica aparece até no livro de
Apocalipse, onde o "'abismo sem
fundo' está vinculado a idéias
concernentes à forma do mundo.
A terra era concebida como um
disco plano que flutuava em cima
da água. O abismo refere-se às
profundezas imensuráveis debaixo
da terra, para os quais pensava-se existir uma fenda capaz de ser selada"16. Até o Novo Testamento,
portanto, sente a influência desta cosmologia.
O conceito egípcio era estruturalmente bem parecido com o hebreu, mas representado nas pessoas de
seus deuses17. Estes representavam para os egípcios as várias partes do cosmos. Enquanto trata-se
na atualidade do mundo fenomenológico como objeto impessoal, "os antigos reagiam a ele como a
uma 'pessoa'"18. Assim, entre os egípcios, a mitologia e apresentação cosmológica defendiam que o
panteão de deuses era parte do cosmos em termos físicos e representativos. Assim, o universo é
tanto criação de seus deuses, como também os seus deuses compõem as partes do universo.
Não parece que houve muita diferenciação entre a obra resultante e o originador da mesma. No
antigo conceito cosmológico egípcio, o deus-céu é o céu, o deus-terra é a terra, o deus-Nilo é o Nilo
e o deus-ar é o ar. (Portanto, no relato das pragas do Egito19, Deus se revela como maior que os
deuses do Egito, não apenas por dominar suas esferas de influência, mas, segundo a forma egípcia de
ver as coisas, por dominar os seus próprios deuses!) Essa forma segue alguns aspectos da mitologia
babilônica retratadas no seu épico, Enuma Elish20, porém é diferenciada em suas próprias expressões.
Os relatos mitológicos dos egípcios referentes a este conceito cosmológico divergiam em muito das
narrativas que se encontram no livro de Gênesis. Os primeiros relatam lutas e intrigas entre deuses
que atuam tais como ou até piores do que os seres humanos. Esses deuses têm muito em comum
com os deuses dos gregos, romanos, e babilônicos, porém pouco ou nada com YHWH (hwhy), Senhor
de Israel.
O conceito babilônico (ou seja, mesopotâmico) do universo é parecido com os conceitos hebraico e
egípcio em seus termos estruturais, mesmo que apresentando outro formato que centraliza a
montanha da terra. Esta montanha era muito importante para os babilônicos, refletindo a idéia de
que no seu ápice era a morada de seus deuses. O épico Enuma Elish21 amplia a perspectiva narrativa
e histórica do conceito babilônico em termos de como o mundo chegou a ser formado. Este épico
enfatiza mais o relacionamento com a perspectiva do panteão de deuses egípcios, pois ele relata o
16 ROBBINS, 221-222.
17 Aqui a deusa é retratada como suspensa pelo deus do ar, firmado no deus da terra. Veja WEST, 82.
18 LASOR, 24 e 32.
19 Êxodo 7-12, incluindo a morte do herdeiro de Faraó, que também se considerava um deus ou representante divino.
20 Enuma Elish é um poema babilônico, retratando a criação do mundo a partir da perspectiva babilônica de um panteão (veja HEIDEL, 1-60).
21 HEIDEL, 78-79.
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assassinato de alguns deuses e a construção das
partes do cosmo com a utilização de seus
corpos. O mesmo relato diverge do egípcio em
que os deuses usados para essa "construção" já
não existem, pois usou-se seus cadáveres na
estrutura física do mundo.
A estrutura física resultante desta cosmologia,
porém, apresenta-se bem semelhantemente à
hebraica. Tem-se também uma reflexão da
perspectiva cosmológica do Apóstolo Paulo, ao
mencionar um homem que foi levado até "o
terceiro céu"22. Esta citação reflete sua visão
estrutural do universo. O quadro acima ilustra
a cosmologia babilônica23. Nota-se que a
perspectiva é a da terra ser uma espécie de ilha,
com água na volta por todos os lados. Tal era
o conceito geral dos hebreus e seus povos
vizinhos24. Um detalhe faltando no quadro é o
túnel por debaixo da superfície da terra pelo qual o sol passava cada noite para chegar de novo a seu
lugar de nascer25.
Nota-se nos relatos babilônicos uma série de conflitos, lutas e intrigas. Estas sucedem tanto entre os
seus próprios deuses, como também entre os deuses e o caos do universo quando da criação do
mundo habitado pelos homens. Desde a perspectiva babilônica, "a criação é realmente nada mais
que a vitória sobre os poderes caóticos que ameaçam a vida dos deuses e das pessoas"26. Os deuses
até conseguem vitória sobre o caos do universo, mas não há uma certeza de vitória entre si, já que
existe entre eles uma disposição a intrigas. Também as suas narrativas referentes ao dilúvio revelam
este mesmo caráter de incerteza, desconfiança, capricho e intriga.
Na cosmologia babilônica pensava-se que a criação do mundo era o resultado da junção dos oceanos
de água salgada e de água fresca na pessoa dos deuses, Tiamat e Apsu. Estes nomes servem de igual
modo para designar os oceanos referentes27. Foi na junção ou união destes deuses que a terra seca se
formou28. O formato do mundo, portanto, era concebido de modo essencialmente igual, trocando o
estilo e especificidade da atuação e identificação dos personagens divinos associados à criação.
Assim, as mitologias narradas por estes outros povos divergem muito das narrativas hebraicas do
Gênesis. No texto bíblico encontra-se conflito, mas este conflito é procedente do homem, não dos
céus entre um panteão de deuses. Em Gênesis, Deus cria a partir de uma decisão de sua livre e
soberana vontade e até domina o "caos" ao começar sua obra criativa. A descrição do restante deste
primeiro relato da criação mostra como Deus operou para impor ordem ao caos que já lhe obedecia e
lhe serviu de base para o restante de sua criação. O narrador continua mostrando ainda a soberania
divina sobre o caos na descrição do dilúvio, apresentando o conceito de YHWH ser muito acima do
conceito dos outros povos referente a seus deuses.
22 2ª Coríntios 12.2.
23 Segue-se o quadro: "Conceito Babilônico do Universo" - WEST, 83.
24 BANDSTRA, 55.
25 SASSON, 40-41.
26 BRONGERS em WOUDE, 116.
27 BANDSTRA, 51.
28 COOGAN, 9.
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5.000" Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin
O conceito estrutural da forma do universo, então, era mantido basicamente em comum com os
outros povos ao seu redor, porém as considerações teológicas que os hebreus mantiveram referente a
essas estruturas físicas é algo completamente diferente. Como participavam dos conceitos
cosmológicos dos seus vizinhos, a sua ciência geofísica e geográfica era muito diferente daquela
aceita no século vinte. Estas diferenças devem ser levadas em consideração para uma melhor
compreensão de textos tão antigos.
Mesmo com as diferenças enormes entre conceitos da estrutura do universo de hoje e dos povos do
mundo antigo, as considerações teológicas destes que apresentam conceitos divergentes são aplicáveis
aos dias de hoje, sem qualquer necessidade de alteração. O texto bem pode falar com um linguajar
geográfico ao considerar a vida além do túmulo, sem alterar o significado do ensino teológico da
expressão.
Hoje ainda se fala com o mesmo tipo de linguagem sobre o viver com Deus "nos céus", mesmo que
se saiba que Deus não mora num lugar fixo acima das núvens. Ainda se faz referência a um inferno
que se localizaria abaixo da crosta da terra, mesmo que não mais se pense no inferno como uma
habitação debaixo da superfície da terra. Estas formas de expressão remontam a cosmologias bem
diferentes da atual. O problema maior para o intérprete é descobrir a intenção teológica do texto,
não considerar a validade científica do pensamento do povo e do autor.
Não se deve cometer o mesmo tipo de erro que a igreja enfrentou na época de Galileu Galilei,
opondo-se a novos posicionamentos científicos para "proteger" os vínculos que se haviam construído
entre questões de fé e conceitos científicos. Aceitando o propósito bíblico básico como sendo
teológico, recorre-se à Bíblia para embasamento de questões de fé e prática, não de conceituações
intelectuais referentes ao mundo criado por Deus. A Bíblia interessa-se mesmo em explicar "Quem"
criou, não o método, nem o formato da criação.
As narrativas bíblicas pretendem demonstrar a identidade de YHWH em relação e contraste com o
homem, não pretendem ensinar ciência. O importante das narrativas, então, não é uma veracidade
detalhada de suas considerações científicas e descritivas do universo, mas o seu ensino referente a
YHWH
e Seus desígnios para a humanidade. É interessante lembrar que as narrativas não contam
toda a história da interação de YHWH com o Seu povo. Como o autor do Evangelho de João coloca,
há muitas coisas que poderiam ter sido escritas referente aos acontecimentos históricos entre Deus e o
seu povo, mas estas foram escritas com propósito específico. Assim como o Evangelho de João foi
escrito para suscitar a fé real, também é este o propósito das narrativas bíblicas em geral-"para que,
crendo, tenhais vida em seu nome"29.
Bultmann, estudioso do Novo Testamento, referiu-se à cosmovisão expressa no Novo Testamento em
termos parecidos com a descrição anterior.
Examinando a cosmovisão do NT, [Bultmann] achou que boa parte dela era mítica em sua natureza. Por mito quis
dizer a descrição de realidades do outro mundo em linguagem figurada tirada deste mundo. Os escritores do
Novo Testamento concebiam da totalidade da realidade como sendo um universo em três andares. O andar
superior é o céu, habitado por Deus e os anjos; o do meio é a terra, habitado por seres humanos; e o inferior é
o inferno, a base de operações do diabo e dos seus assistentes demoníacos. Mesmo na terra nem tudo é o
resultado de forças puramente naturais. Poderes sobrenaturais intervêm no fluxo "natural" dos eventos. Os
milagres ocorrem com considerável freqüência. Os maus espíritos podem tomar posse do homem, causando
29 João 20.30-31.
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5.000" Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin
A forma estrutural do universo, então, é mantida basicamente em comum com os outros povos ao
redor dos hebreus, porém as considerações teológicas que os hebreus mantiveram referente a tais
estruturas físicas é algo completamente diferente. A interpretação da estrutura e suas implicações
divergem em muito, porém a armação física é compreendida de forma quase idêntica.
Geografia/Mundo Físico:
Mapa de Hecataeus, c. 520 a.C.
Não se dispõe hoje de mapas do mundo provindo do povo
hebreu, porém existem alguns provenientes de outros povos
ao seu redor. Em tese, estes refletem algo da perspectiva dos
povos mediterrâneos, incluíndo os hebreus, referente à
organização e ao tamanho da superfície da terra. Sua
perspectiva cosmológica era diferente da atual, como também
era diferente a sua perspectiva cartográfica. Distâncias e
medidas na Bíblia não refletem as precisões da pesquisa
científica atual.
O Pentateuco teria chegado à sua forma atual na época do
exílio do povo hebreu, entre os séculos sexto e quarto a.C.31.
O mapa de Hecataeus, grego que viveu por volta de 520
a.C.32, ajuda a posicionar uma referência mundial relativamente parecida com a que o povo hebreu
poderia ter conhecido por volta desta época. Esta perspectiva é provavelmente mais desenvolvida do
que aquela que os hebreus teriam ao seu dispor. Os hebreus dificilmente teriam conhecimento de um
mundo maior do que o aqui representado. Como o povo hebreu não era um povo marítimo, é bem
provável que sua perspectiva do tamanho do mundo fosse razoavelmente menor do que a perspectiva
refletida por Hecataeus.
Mapa de Strabo, c. 18 d.C.
Estudando o mapa de
Hecataeus, é necessário
lembrar que o centro do
mundo para os hebreus
seria o crescente fértil e
mais precisamente a
Palestina, não as
montanhas do norte da
Grécia (o Monte Olympo
sendo central nas
mitologias gregas e
30 ERICKSON, OCnE, 30.
31 BARR, James em MAYS, 68.
32 BAIN.
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5.000" Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin
também neste mapa). Assim, poderia-se tomar uma perspectiva de tamanho deste mapa e vinculá-lo
com o mundo conhecido por Strabo, grego do primeiro século depois de Cristo. Strabo reflete
descobertas das conquistas de Alexandre após a época de Hecataeus.
O povo hebreu na época do Antigo Testamento provavelmente conhecia algo da metade a dois terços
do mundo representado por Strabo. Provavelmente desconhecia a maior parte da Europa e a parte da
África denominada como Líbia ao oeste do Egito, também como o extremo leste do mapa que
representa a Índia. Sabia-se a respeito da Índia, porém é provável que o conhecimento fosse pouco.
Já no Novo Testamento, o conhecimento do mundo refletido por Strabo estaria acessível para os mais
estudados, como Paulo e Lucas.
Estes dois mapas em conjunto mostram um grande aumento no conhecimento grego do mundo como
resultado das conquistas de Alexandre. Com o crescimento do conhecimento grego, viria também
um crescimento entre os judeus, especialmente com o evento da Diáspora, no qual os judeus
entraram em contato com os ensinos gregos de uma forma muito mais abrangente. O povo hebreu
provavelmente não teve muito contato com as terras ao oeste da Palestina até esse período após o
exílio babilônico e o Antigo Testamento chegar à sua forma atual.
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5.000" Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin
"Reinar de Deus":
No estudo da eclesiologia foi revisto algo da importância do conceito do Reino de Deus. Como o
conceito é também de muita importância na escatologia, será tratado aqui de forma mais dirigida às
temáticas escatológicas.
Para a escatolgia, a categoria principal na Bíblia é o Reino de Deus, seu "governo em ação"33. Em
razão disto, usaremos a frase o "reinar de Deus"34 em lugar do costumeiro "Reino de Deus". Jesus
declarou que esse reinar já se fazia real dentro dos parâmetros da historia35, mesmo que muitos
tratem do reinar de Deus em sentido futuro. O Reinar "não é somente algo que se acerca no
ministério de Jesus, mas que realmente chega numa data futura"36. Esta data pode ser entendida
como o evento de pentecostes, entre outras opções. Nos evangelhos sinópticos, Jesus é apresentado
anunciando não somente a iminência, mas a própria chegada do reinar de Deus37. Logo, não deve
ser concebido apenas em termos da vida após a morte, pois reflete o reinar de Deus na vida do
cristão no "aqui e agora".
O Reinar de Deus é uma temática especial dos evangelhos sinópticos, porém, principalmente do livro
de Mateus, onde se encontra a terceira parte das referências neotestamentárias ao Reinar de Deus/dos
céus38. "Havia urgência, porque o reino estava vindo, e o único aspecto especialmente ressaltado foi
o arrependimento"39. Muitas vezes a palavra de Jesus refere-se à crise centralizada no ingresso ao
reinar de Deus40, como nos capítulos 13 a 16 de Lucas. No ensino de Jesus, nada tem valor ao ser
comparado com o reinar de Deus41. Jesus convocava à renúncia de todo laço que impediria o
indivíduo de seguir o seu exemplo de submissão total a Deus, o que o levou à cruz42.
É comum certa confusão referente ao Reinar de Deus, especialmente em termos de seu tempo.
Como já tem sido visto, Jesus trata o reinar de Deus em tempo presente. Simultaneamente, Jesus
trata o reinar em tempo futuro. A ênfase é na realidade presente, mesmo que seja mais comum tratar
a temática em expectativa futura:
[Mateus 12.28 e Lucas 11.20] aparentemente indicam que o reino não apenas está perto, mas que realmente já
chegou. Não há contradição, no entanto. Ambas as coisas são verdade. O reino está perto no sentido de que
não está consumado; está presente no sentido de que o poder de Deus que o caracteriza começou a manifestar-se
nas palavras e ações de Jesus e continua a fazer o mesmo na igreja43.
O tratamento bíblico do reinar de Deus da perspectiva após o ministério de Jesus visa menos
futuricidade do que recebe durante o seu ministério sobre a terra. Ao mesmo tempo, permanece a
33 MILNE, 259.
34 D. E. Aune em FREEDMAN, "Eschatology: Early Christian Eschatology" e MOODY, 516.
35 MILNE, 260.
36 Brooks em HEMPHILL, 26.
37 D. E. Aune em FREEDMAN, "Eschatology: Early Christian Eschatology".
38 Brooks em HEMPHILL, 23.
39 ERICKSON, OCnE, 22.
40 D. E. Aune em FREEDMAN, "Eschatology: Early Christian Eschatology".
41 ERICKSON, OCnE, 22.
42 NOLLAND, 762.
43 Brooks em HEMPHILL, 28-29
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5.000" Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin
expectativa de um complemento à realidade do reino já inaugurada nas vidas dos crentes. Tal
expectativa, porém, encontra a sua expressão na base do que Jesus já tem realizado.
"A confissão cristã não é apenas de que Cristo virá ao final da história, mas que Cristo já veio; não apenas que
a salvação espera o crente no futuro escatológico, mas que a salvação já é experimentada, numa forma
antecipatória, porém real, no aqui e no presente, no meio de problemas e não apenas ao seu fim.... O presente é
moldado não apenas pelo passado, mas também pelo futuro de Deus"44.
"No Novo Testamento, o reino de Deus é principalmente o seu reinar nas vidas daqueles que se
submetem à sua autoridade"45. O ingresso ao reino é agora, não no porvir. No momento em que se
abre a vida para depender de Deus completamente, há ingresso no seu reinar. Em termos políticos,
esse reinar "não é deste mundo"46, porém não há necessidade de pensar que seja apenas um conceito
futurístico.
Ao tratarmos a questão do reinar de Deus, deve-se salientar alguns aspectos da temática do céu, por
questão de ser complemento do ensino referente ao reinar de Deus-o reinar de Deus após a morte
física.
Os termos bíblicos para céu, "mymc e ouranovs são usados basicamente de três maneiras na Bíblia":
referindo-se à estrutura do universo, como sinônimo de Deus e como o local da morada de Deus47.
Olhando para Lucas 15.18, pode-se ver claramente que esta referência é feira especificamente a
Deus48, não àquela espansão estrutural acima das núvens, pois o filho havia pecado contra Deus, não
contra uma localidade. Pode-se ver que o reino do qual Jesus ensina em Mateus 5.3 e em Lucas 6.20
é o mesmo. Logo, o chamado "reino de Deus" e o "reino dos céus", são expressamente a mesma
coisa.
Entre o uso do termo como morada de Deus e sinônimo de Deus, existe um relacionamento que nos
interessa em referência à temática do reinar de Deus. Há um vínculo entre o estar sob o reinar de
Deus e o estar presente com Deus. Essa presença com Deus é elemento essencial da temática de
"céu", como também do reinar de Deus.
Usa-se também o termo descanso para tratar considerações referentes à vida no céu, mesmo que
tenha conotações presentes49. "Descanso, como o termo é usado em Hebreus, não é apenas uma
cessação de atividade, mas a experiência de alcançar um alvo de importância crucial"50. Quando
falamos em descanso em termos celestiais é necessário lembrar deste aspecto da utilização do termo.
"Schweitzer não gostava [das referências 'segunda vinda de Jesus' e sua 'volta'],... [pois] não era
termo de Jesus... Schweitzer considerava que Jesus colocava sua morte numa conexão temporalcausal
com a vinda escatológica do reino"51. O termo bíblico para a chamada segunda vinda é
"parousia"-aparecimento. É designação de Jesus ser revelado em glória52.
44 BORING, 33.
45 Brooks em HEMPHILL, 21.
46 João 18.36.
47 ERICKSON, CT, 1226.
48 NOLLAND, 784 trata este uso do termos especificamente na categoria de perífrase.
49 HAGNER, NIBCH, 69-73.
50 ERICKSON, CT, 1229.
51 ERICKSON, OCnE, 21.
52 Veja comentários sobre a1a e 2a Tessalonicenses na página 24.
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Edição: 12-09-2002 ©Copyright 2002 por Chrístopher Byron Harbin Todos os direitos reservados. Página 14 de 58
É valioso lembrar que o uso de frases como "o fim do mundo" e "os últimos dias" nem sempre
referem-se à destruição do mundo físico. Os judeus dividiam o tempo em duas partes-antes e depois
do messías53. Logo, com o dia de Pentecostes em Atos 2, já se pode falar destes últimos tempos,
conforme Paulo, em 1a Coríntios 10.11. Em conjunto com estas frases, encontra-se em certas
passagens a frase "última hora". Esta refere-se de forma parecida, se não igual, ao conceito últimos
dias. Pode ao mesmo tempo espelhar uma compreensão de ser um tempo imediatamente antes da
vinda de Jesus em glória, porém tal compreensão deve ser vista no contexto dos quase dois mil anos
após estes textos terem sido escritos, sem que Jesus tenha vindo em sua glória. Autores bíblicos de
textos como Apocalipse e 1a João esperavam que Jesus voltasse a qualquer minuto, porém estavam
errados nos seus cálculos. Tal fato deve servir de alerta àquele que busca definir o quando da
parousia54
e o fim do mundo-ninguém sabe.
Ressurreição e Juizo:
Os conceitos de ressurreição e juizo estão ligados de pelo menos duas formas: a ligação de seqüência
temporal dos conceitos e o seu tratamento bíblico por via de duas perspectivas distintas. A ligação
temporal é produto de uma das perspectivas que trata a ressurreição como o evento que introduz o
julgamento. As duas perspectivas bíblicas divergentes sobre os conceitos visam a duas ênfases
primárias das temáticas, o individual e o universal.
Na perspectiva individual, os autores bíblicos tratam de enfatizar que cada indivíduo passa pela
ressurreição e o julgamento na hora de sua morte. Essa perspectiva realça tanto a experiência
individual como a instantaneidade da experiência. A perspectiva universal normalmente trata o
evento de ressurreição ou julgamento como um evento compartilhado de forma simultânea entre
todos da raça humana de todos os tempos. Poderia-se designar as perspectivas como pontilhar
seqüêncial (olhando a história como uma série de pontos individuais) e aorista sumária (olhando
desde o futuro para trás sem diferenciar questões temporais), descrevendo os mesmos acontecimentos
de perspectivas diferentes. Por outro lado, pode-se interpretar o aspecto pontilhar seqüêncial como
sendo a experiência normativa, passando para o aorista sumário num final cósmico cataclismático.
Assim, Hebreus 9.27 trata da perspectiva pontilhar seqüêncial: cada um morre e segue para o seu
julgamento. Mateus 25 trata de forma aorista sumária: virá o dia de prestar contas, e todos os servos
aparecerão perante o Senhor para serem julgados. Paulo parece vincular as duas perspectivas em
Tessalonicenses: não chegaremos antes dos que dormiram primeiro, mas os encontraremos na região
celestial. Não há necessidade de cogitar um estado intermediário como alguns têm feito. Lucas 16
parece ensinar que o juizo é imediato na hora da morte, enquanto João 5 denota o juizo como tendo
ocorrido mesmo antes da morte do indivíduo.
53 ROBBINS, 222.
54 Vinda ou chegada em glória do Messías, já que os termos segunda vinda e volta de Cristo não são bem assentados no texto bíblico.
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Como o conceito "céu" tem vínculo estreito com o estar presente com Deus, o conceito inferno
vincula-se diretamente ao oposto. Várias figuras são usadas para descrever essa realidade, mas o
essencial é de estar completamente desvinculado de Deus para sempre. Há passagens que tratam o
inferno como ardendo em fogo, enquanto outras passagens descrevem com o ranger de dentes,
refletindo um frio interminável. Lembra-se que são figuras para descrever uma realidade que não se
reduz à linguagem humana. Outras formas descritivas também são usadas, como de ser deixado do
lado de fora da festa nupcial ou banquete. Qualquer que seja o detalhe, é um estado consciente de
separação de Deus.
Escatologia, Textos Bíblicos Essenciais:
Passemos agora a tratar alguns textos chaves para a compreensão das temáticas da escatologia. As
passagens a seguir não são todas as passagens relevantes, mas são as mais centrais para tratar essas
temáticas.
1ª Coríntios 3.10-4.5:
Por contrastar ouro, prata e mármore com madeira, palha e joio, Paulo fala de "um palácio por um
lado, e uma barraca de lodo por outro"56, segundo os materiais em uso comum na época. Os
materiais dignos para a construção sobrevivem ao fogo mencionado. Se Cristo for o alicerce, a
estrutura erguida por cima deveria ser digna da qualidade do seu fundamento. Não se deve construir
de qualquer maneira, mas com qualidade57. Em algum ponto o material utilizado na construção será
visto e provado58.
Não há como escapar desta prestação de contas a Deus59, pois nesta menção do fogo é feita em
conjunto a menção do "Dia"-uma referência escatológica-essa junção refletindo o dia de juízo
escatológico. Nestes termos, a igreja primitiva ouvia uma mensagem de boas novas pelo interesse e a
autoridade de Deus exercida sobre o que se passava entre o seu povo ou sua igreja60. O interesse de
Deus está presente na sua igreja e no labor desse seu campo. Esse interesse virá a ser revelado de
forma mais efetiva no juízo ao qual Paulo aqui se refere. No entanto, muitos trabalham no campo,
mas haverá um prestar de contas. Esta prestação aqui referida não está necessariamente vinculada
com a salvação, mas com a recompensa do justo fiel.
55 BERQUIST, 26.
56 Lighfoot em ROBERTSON, WPNT IV, 97.
57 BERQUIST, 25-26.
58 FEE, 141.
59 ROBERTSON, WPNT IV, 97.
60 SOARDS, 73.
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A figura do juízo aqui não é a questão da separação entre os fiéis e os infiéis, "é a tragédia de uma
vida infrutífera, de um ministro que trabalhou tão pobremente no alicerce verdadeiro que o seu
trabalho subiu em fumaça... É a figura de uma vida desperdiçada.... Não há almas no céu como
resultado de seu labor por Cristo, enriquecimento de caráter, nem crescimento em graça"61. A
questão básica aqui é de que importa para Deus a qualidade do investimento que cada qual faz no
desenvolvimento do reinar de Deus62.
Quando Paulo trata a questão do corpo do cristão como templo, ele emprega o termo nao;" (naós),
que designa mais precisamente o santuário em si, do que o templo como um todo. O uso aqui pode
designar a parte interna do templo, o santuário63, onde se visualizava a mera presença de Deus. Um
santuário, ou templo, era para o povo da época uma manifestação visível da presença do deus ali
cultuado64, neste caso, YHWH (hwhy). É neste contexto que Paulo retrata a vivência interna do "Sopro
de Deus" no cristão, como parte desse templo. Vale ressaltar que o termo pneu'ma (pneuma) é usado
nos parâmetros do termo hebraico jwr (ruach), o qual designa não apenas o conceito de espírito, mas
o próprio fôlego65. A intimidade da vivência interna do pneu'ma tou' qeou' (sopro de Deus) é igual ao
respirar do homem no seu viver diário, ressaltando assim a importância e a proximidade do corpo
como sendo a "nave"66 do templo de YHWH.
O conceito de "o dia" é especificamente uma referência judicial67. Nesse dia, o juiz seria Deus, não
algum ser humano que usaria de parcialidade no seu juízo. Este juiz julgaria conforme os reais
méritos, não por alguma perspectiva falha ou parcial68. Este julgamento, portanto, é motivo de
alegria para Paulo, pois o seu julgamento e o seu futuro está nas mãos de Deus, não dos homens.
Deve-se lembrar que Paulo termina num ponto positivo, mostrando que o prestar contas ao Senhor
deveria ser um motivo de alegria para o cristão69.
Esta passagem de 1a Coríntios, revela que o julgamento vindouro é mais do que uma símples
separação entre os fiéis e os infiéis. Remonta também a alguma diferenciação entre a qualidade do
investimento de cada cristão na construção da igreja, ou seja, no reino de Deus. Nesta diferenciação,
não existe motivo de se gloriar por haver em qualquer caso "merecido" a salvação, mas parece ser
um ensino coerente com a passagem de Mateus 25.14-30, onde aos servos fiéis são dados novas
responsabilidades, ou seja, oportunidades de continuar o seu serviço a Deus. O reinar de Deus
continua, e o cristão ainda permanece como servo ou mordomo do Senhor do reino.
Lucas 14.1-16.31:
A parábola de Lázaro e o homem rico é uma das passagens mais marcantes referente ao estado do ser
humano após a morte. Aqui se evoca imagens bem ilustrativas de recompensa e juízo. É
interessante notar que Jesus referiu esta parábola aos fariseus e não aos saduceus. Os saduceus não
pensavam existir uma vida além-túmulo no sentido de céu e inferno, apoiando-se aos conceitos mais
tradicionais do judaismo do Seol como o lugar de todos os mortos, sem diferenciação. Esta parábola,
como todo o texto maior desde o capítulo quatorze, parece estar bem dirigida aos fariseus, os quais
61 ROBERTSON, WPNT IV, 98
62 SOARDS, 74.
63 BAUER, 533-534 e SOARDS, 74.
64 BERQUIST, 27.
65 Veja "O Sopro de Deus" em Homilética da Teologia das Narrativas, p. 18.
66 O termo é provavelmente proveniente do grego nao;" (naós) desta passagem.
67 SOARDS, 87.
68 BERQUIST, 32.
69 SOARDS, 89.
STBRS-PETE "5.000
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tinham expectativas messiânicas e escatológicas bem desenvolvidas. Este ensino, portanto, tem uma
audiência específica. Parece que o tratamento do reino dado por Jesus para os saduceus teria uma
ótica e ênfase diferente.
Tem sido comentado que Jesus parece colocar mais ênfase no ensino referente ao inferno do que
propriamente no ensino referente ao céu. Deve-se lembrar, porém, que o inferno não é o
contraponto ou oposto do céu, mas do reino. Nestes termos, o ensino de Jesus é bem dirigido à
inclusão dos saduceus. O reino já chegou e começa no aqui e agora. Esta vida no reino é a "vida
das eternidades", o qual começa aqui e continua para sempre. Como a vida do reino é deixar que
Deus reine no indivíduo e no corpo, o céu é a continuação do reinar de Deus, mesmo após a morte.
A morte não interfere no reino, apenas modifica a esfera de sua atuação. O ser humano continua
após a morte no seu relacionamento com Deus, seja como for o mesmo-na intimidade do reinar de
Deus ou na eterna separação de Deus, o inferno.
Para tratar bem a parábola de Lázaro e o homem rico, é necessário ver alguns assuntos do contexto
maior desde o início de Lucas 14. Em geral, uma parábola é dirigida a alguem para evocar uma
resposta70. Assim, é necessário compreender do contexto a quem a parábola estava sendo dirigida e
com que motivo foi empregada por Jesus. Também algumas questões clarificativas devem ser
colocadas de antemão.
O contexto maior começa fazendo uma diferenciação entre a ótica ou prática dos fariseus e a forma
de vida do reino que Jesus pregava. Desde pelo menos o capítulo 14, Jesus vem lançando uma série
de críticas aos religiosos do seu dia. Com esta crítica, Jesus vem enfatizando o tipo de vida do reinar
de Deus-a "vida das eternidades"-pelo seu caráter ou sua qualidade. No gráfico a seguir, pode-se
ver algo da crítica colocada por Jesus em oposição aos líderes religiosos dos judeus do seu tempo.
Como tem sido comentado em outra parte, a crítica de Jesus "questiona a confiança daqueles que
tomam por certo que estarão presentes no grande banquete escatológico. ...São os pobres, os coxos e
os cegos que estão se encaminhando ao banquete, enquanto muitas das pessoas mais óbvias da lista de
convidados estão mais preocupadas com outros assuntos"71.
Ref: Designação Crítica de Jesus
14.1-6
��
Negligenciando os pobres e necessitados
14.7-14
��
Buscavam o melhor para si; faziam bem para que o bem fosse feito em retorno
14.15-24
��
Os grandes não querem ir ao banquete, criam desculpas, pois não querem a
renúncia.
14.25-35
��
Necessidade de renúncia/contar o custo
15.1-2
��
Murmuravam por Jesus aceitar pecadores
15.3-7
��
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