segunda-feira, 19 de abril de 2010
Ahmadinejad acusa EUA de proliferação nuclear e pede nova ordem mundial
Da EFE
Javier Martín.
Teerã, 17 abr (EFE).- A queda-de-braço entre Irã e os Estados Unidos sobre o polêmico programa nuclear iraniano ficou mais intenso hoje, durante a abertura de um fórum internacional sobre desarmamento no qual Teerã responsabilizou Washington pela corrida armamentista nuclear e pediu uma reforma no sistema internacional.
Em uma aparente resposta à conferência mundial convocada nesta semana pelo presidente americano, Barack Obama, o regime iraniano reuniu 30 países para sugerir a criação de um "grupo independente" com plenos poderes nas Nações Unidas, que dirija e controle o desarmamento nuclear do mundo.
Além disso, defendeu a reforma do "injusto" Conselho de Segurança da ONU, a revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) e a saída do Conselho de Governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) dos países que tenham utilizado armas nucleares ou ameacem a fazê-lo.
O principal destinatário da mensagem era os EUA, nação a qual o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, acusou no sábado de ameaçar a segurança nuclear mundial.
"Os EUA são o único país do mundo a utilizar armas nucleares e ameaça a voltar a fazer o mesmo", afirmou Ahmadinejad, em alusão aos bombardeios americanos sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, durante a Segunda Guerra Mundial.
"O uso das armas nucleares é a principal razão da corrida nuclear. Os países que possuem armas nucleares são os mesmos que levam outros a proliferar", acrescentou o líder, que acusou Washington de possuir "a metade das armas nucleares existentes no mundo" e de ter ajudado a Israel a obtê-las.
Ahmadinejad também se dirigiu a outros países, como Brasil e Turquia, que expressaram tanto seu apoio ao desenvolvimento pacífico do programa nuclear iraniano quanto sua ambição de renovar o equilíbrio mundial que emergiu da Segunda Guerra Mundial.
Na busca de aliados sólidos, o líder iraniano criticou com dureza a ONU, a qual acusou de ter fracassado em sua missão de manter a paz no mundo, e pediu a reforma do "injusto e antidemocrático sistema de veto" do Conselho de Segurança, o que também é desejado por outros estados.
Ahmadinejad sugeriu que o mecanismo seja anulado ou que se estenda a países tanto da América Latina quanto da Ásia.
"As guerras, as agressões, a ocupação, as ameaças, as armas nucleares, as armas de destruição em massa e as políticas expansionistas de certos países ameaçam a segurança internacional e regional", ressaltou.
Em defesa de seu controverso programa nuclear e do fim da atual ordem mundial, o líder iraniano criticou a estrutura da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e apostou pela revisão do TNP, do qual seu país é signatário.
Grande parte da comunidade internacional, com os Estados Unidos na liderança, acusa o Irã de ocultar, sob seu programa civil, outro de natureza clandestina e ambições bélicas cujo objetivo seria a aquisição de um arsenal atômico, alegação negada por Teerã.
Meses atrás, a AIEA elaborou um relatório no qual assegura que não pode confirmar a possível vertente bélica do programa iraniano, mas também não consegue responder totalmente às dúvidas sobre a finalidade do mesmo.
Os EUA tentam pactuar novas sanções contra o regime iraniano para frear suas ambições nucleares, medida que, por enquanto, foi recebida com reticência por alguns países, como a China.
Ahmadinejad voltou hoje a acusar a AIEA de nunca ter redigido um relatório sobre o programa nuclear americano e de "nem tem a intenção de fazê-lo".
"Esperar que os países que tem direito de veto e são ao mesmo tempo os maiores vendedores de armas nucleares mantenham a segurança e desarmem outros não tem lógica", disse o líder, em aparente resposta às conclusões da conferência de Washington.
Por isso, o presidente iraniano sugeriu a formação de "um grupo independente de países", com plenos poderes outorgados pela Assembleia Geral da ONU, que dirija e supervisione a destruição do arsenal nuclear mundial.
"A grande mentira do Ocidente é ter equiparado a energia nuclear, limpa e barata, com as perigosas armas atômicas, e ter aproveitado desta falácia para pressionar outros países e monopolizar o uso da energia nuclear", destacou.
"A era da bomba nuclear passou", concluiu. EFE
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