domingo, 13 de abril de 2014

Meios de Graça na Igreja

9-10-2011 17:45

A. Quantos são os meios de graça à nossa disposição?

Todas as bênçãos que recebemos nesta vida são em última análise imerecidas — todas elas nos vêm pela graça. De fato, para Pedro, toda a vida cristã se vive pela graça (1Pe 5.12).
Mas será que Deus usa meios especiais para nos dispensar mais graça? Especificamente na comunhão da igreja, será que há determinados meios — ou seja, determinadas atividades, cerimônias ou funções — que Deus usa para nos dispensar mais graça? Outra maneira de formular essa pergunta é: será que o Espírito Santo se utiliza de certos meios para distribuir as bênçãos aos salvos? É claro que a oração particular, o culto, o estudo da Bíblia e a fé são meios de que Deus lança mão para dispensar graça a cada cristão. Mas neste capítulo estamos tratando da doutrina da igreja e perguntamos especificamente: na comunhão da igreja, que meios de graça Deus usa para nos dispensar bênçãos?

B. Análise dos meios

1. O ensino da Palavra.

Mesmo antes de as pessoas se tornarem cristãs, o ensino e a pregação da Palavra lhes dispensam a graça de Deus, pois esse é o instrumento que Deus usa para lhes conceder a vida espiritual e levá-las à salvação. Diz Paulo que o evangelho é o “poder de Deus para a salvação” (Rm 1.16) e que a pregação de Cristo é “poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Co 1.24). Deus nos fez nascer de novo ou “nos gerou pela palavra da verdade” (Tg 1.18), e Pedro diz: “Fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1Pe 1.23). A Palavra escrita de Deus, a Bíblia, pode “tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm 3.15).

2. O batismo.

Como Jesus ordenou que a igreja realizasse o batismo (Mt 28.19), é de esperar que haja bênçãos associadas ao batismo, pois toda obediência que os cristãos prestam a Deus lhes traz favor divino. Essa obediência é especificamente o ato público de confessar Jesus como Salvador, ato que por si mesmo traz alegria e bênção ao crente. Além disso, é um sinal da morte e ressurreição do crente com Cristo (ver Rm 6.2-5; Cl 2.12), e parece natural que o Espírito Santo aja por intermédio desse sinal para aumentar a nossa fé, a nossa percepção prática da morte para o poder e o amor do pecado e também para ampliar a nossa experiência do poder da nossa vida ressurreta em Cristo, vida que todos nós salvos temos. Como o batismo é um símbolo físico da morte e da ressurreição de Cristo e da nossa participação nelas, deve também dar garantia adicional de união com Cristo a todos os cristãos presentes. Por fim, como a água do batismo é um símbolo exterior do batismo espiritual do Espírito Santo, é de esperar que o Espírito Santo aja normalmente durante o batismo, dando aos cristãos uma maior consciência dos benefícios do batismo espiritual indicado pelo sinal da água.

3. A Ceia do Senhor.

Além do batismo, a outra ordenança ou cerimônia que Jesus instituiu como dever da igreja é a participação na ceia do Senhor. Embora esse assunto seja discutido mais a fundo nos próximos capítulos, convém observar aqui que a participação na ceia do Senhor é também muito claramente um meio de graça que o Espírito Santo usa para dispensar bênçãos à igreja. A ceia do Senhor não é simplesmente uma refeição comum partilhadada por seres humanos – é comunhão com Cristo, na sua presença e à sua mesa.

4. A oração.

Já estudamos a oração no capítulo 18; portanto, só precisamos aqui observar que tanto a oração coletiva na igreja reunida quanto a oração dos cristãos uns pelos outros são meios poderosos que o Espírito Santo usa cotidianamente para distribuir bênçãos aos salvos. Certamente devemos orar juntos e também individualmente, seguindo o exemplo da igreja primitiva. Quando os primeiros cristãos ouviram as ameaças dos líderes dos judeus, “unânimes, levantaram a voz a Deus” em oração (At 4.24-30), e “tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus” (At 4.31; cf. 2.42). Quando Pedro foi lançado na prisão, “havia oração incessante a Deus por parte da igreja a favor dele” (At 12.5).

5. A adoração.

A adoração genuína é a adoração “em espírito” (Jo 4.23-24; Fp 3.3), que provavelmente significa adoração que se dá na esfera espiritual (não meramente o ato físico de participar do culto, ou de cantar hinos). Quando penetramos na esfera espiritual e ministramos ao Senhor em oração, Deus também ministra a nós. Assim, por exemplo, na igreja de Antioquia, enquanto estavam “servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado” (At 13.2).

6. A disciplina da igreja.

Como a disciplina da igreja é um meio pelo qual se fomenta a pureza da igreja e se estimula a santidade de vida, sem dúvida devemos contá-la também como “meio de graça”. Porém, a bênção não é concedida automaticamente: quando a igreja disciplina, aquele que está em pecado não recebe nenhum bem espiritual a menos que o Espírito Santo o convença do seu pecado e provoque uma “tristeza segundo Deus” que “produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar” (2Co 7.10); e a igreja também não recebe nenhum bem espiritual a menos que o Espírito Santo esteja atuante nos outros membros quando eles tomarem consciência desse processo. É por isso que a igreja deve executar a disciplina sabendo que ela se faz na presença do Senhor (1Co 5.4; cf. 4.19-20) e com a certeza de que ela traz em si a sanção celeste (Mt 16.19; 18-18.20).

7. A oferta.

As ofertas são normalmente feitas por intermédio da igreja: ela as recebe e distribui aos vários ministérios e necessidades que atende. Aqui, novamente, não há dispensação automática ou mecânica de benefícios aos que contribuem. Simão, o mágico, foi veementemente repreendido por pensar que podia “adquirir, por meio dele [do dinheiro], o dom de Deus” (At 8.20). Mas se a oferta é feita com fé, pela devoção a Cristo e por amor ao seu povo, então certamente haverá grandes bênçãos nela. Deus mais se agrada quando as ofertas em dinheiro vêm acompanhadas de uma intensificação da devoção do doador a Deus, como foi o caso dos macedônios, que “deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus” (2Co 8.5), e mais tarde ainda fizeram doações aos cristãos pobres de Jerusalém. Quando a contribuição se faz com alegria, “não com tristeza ou por necessidade”, vem com ela a grande recompensa do favor de Deus, “porque Deus ama a quem dá com alegria” (2Co 9.7).

8. Os dons espirituais.

Pedro considera os dons espirituais veículos pelos quais a graça de Deus vem à igreja. Diz ele: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1Pe 4.10). Quando os dons são usados em benefício uns dos outros na igreja, a graça de Deus é assim dispensada àqueles a quem Deus pretende concedê-la. Excelentes bênçãos virão à igreja com o uso correto dos dons espirituais, desde que a igreja siga a exortação de Paulo de usar os dons para procurar “progredir, para a edificação da igreja” (1Co 14.12; cf. Ef 4.11-16).

9. A comunhão.

Não devemos menosprezar a comunhão cristã comum como valioso meio de graça na igreja. Os membros da igreja primitiva “perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (At 2.42). E o autor de Hebreus lembra aos cristãos: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hb 10.24-25). Na comunhão dos crentes, crescem a amizade e o afeto naturais uns pelos outros, e assim se cumpre o mandamento de Jesus: “que vos ameis uns aos outros” (Jo 15.12). Além disso, quando os crentes se importam uns com os outros, seguem o conselho de Paulo: “Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo” (Gl 6.2).

10. A evangelização.

Em Atos, há um vínculo freqüente entre proclamar o evangelho (mesmo enfrentando oposição) e estar cheio do Espírito Santo (ver At 2.4 com v. 14-36; 4.8, 31; 9.17 com v. 20; 13.9, 52). A evangelização é então um meio de graça não só porque ministra graça salvífica aos que não estão salvos, mas também porque quem evangeliza vivencia mais a presença e a bênção do Espírito Santo. Às vezes a evangelização é realizada individualmente, outras vezes é uma atividade coletiva da igreja (como nas campanhas de evangelização). E mesmo a evangelização individual muitas vezes envolve outros membros da igreja, que acolhem um visitante descrente e atendem as suas necessidades. Portanto a evangelização é com justiça considerada um meio de graça na igreja.

11. O ministério individual.

Juntamente com os precedentes dez “meios de graça” da igreja, cabe relacionar mais um meio específico que o Espírito Santo usa com bastante freqüência para distribuir bênçãos a cada cristão. Esse meio de graça entra em ação quando um ou mais cristãos atendem, de modos diversos, necessidades bem específicas de outra pessoa da igreja.

12. Será que os cristãos devem usar o lava-pés como meio de graça na igreja?

De tempos em tempos alguns grupos cristãos fazem a cerimônia do lava-pés em reuniões da congregação. Baseiam eles essa prática no mandamento de Jesus: “Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo 13.14). Aqueles que defendem o lava-pés o consideram uma cerimônia instituída por Jesus, semelhante aos ritos do batismo e da ceia do Senhor.

C. Conclusões

Ao final deste exame dos meios de graça na igreja, convém perceber antes de tudo que quando qualquer um desses meios é utilizado com fé e obediência, os cristão devem esperar e procurar evidências de que o Espírito Santo está de fato ministrando às pessoas simultaneamente à utilização dos meios. Que nós cristãos “não deixemos de congregar-nos” (Hb 10.25), mas busquemos avidamente participar de qualquer reunião de crentes em que esses meios se façam presentes, esperando que Deus dispense bênçãos mediante cada um deles!


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