Conhecendo a Deus
(Introdução do livro: Deus – face a face com sua majestade).
Há uma antiga fábula sobre seis homens, cegos de nascença, que viviam na Índia. Um dia, eles decidiram visitar um palácio na vizinhança. Quando chegaram lá, havia um elefante em pé no pátio. O primeiro homem cego tocou o lado do elefante e disse: “Um elefante é como uma parede”. O segundo cego tocou sua tromba e disse: “Um elefante é como uma cobra”. O terceiro cego tocou sua presa e disse: “Um elefante é como uma lança”. O quarto homem cego lhe tocou a perna e disse: “Um elefante é como uma árvore”. O quinto cego tocou a orelha e disse: “Um elefante é como um leque”. O sexto homem cego tocou-lhe a cauda e disse: “Um elefante é como uma corda”. Devido ao fato de cada cego ter tocado apenas uma parte do elefante, nenhum deles podia concordar a respeito de como um elefante era de fato.
Trazendo essa analogia para o âmbito espiritual, muitas pessoas têm ideias erradas sobre o que Deus realmente é. Crer em algo errado acerca de Deus é uma questão muito séria, porque é idolatria. Isso o surpreende? Ao contrário da crença popular, a idolatria é mais do que se curvar diante de uma pequena imagem ou adorar num templo pagão. Segundo a Bíblia, idolatria é pensar qualquer coisa sobre Deus que não seja verdadeira ou tentar transformá-Lo em algo que Ele não seja.
O próprio Deus chamou a atenção para a falácia da idolatria dizendo do homem: “Pensavas que eu era teu igual” (Sl 50.21). Devemos ser cautelosos para não pensar em Deus em nossos termos ou alimentar pensamentos que sejam indignos dEle. É perigosamente fácil fazer ambas as coisas.
Voltaire, o agnóstico francês, disse certa vez que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, e este lhe pagou na mesma moeda. Um autor escreveu: “Isso não é verdade apenas em relação aos ímpios, mas os cristãos muitas vezes são também culpados do mesmo erro”. Porque somos seres finitos, temos a tendência de perceber o infinito à luz de nossas próprias limitações. Até mesmo as Escrituras apresentam a verdade por meio de uma linguagem e de pensamentos que possam se acomodar à nossa compreensão humana. Mas, embora nos fale em nosso nível, a Bíblia também nos encoraja a ir além de nossas limitações e a ter pensamentos elevados sobre Deus.
É essencial que nossas ideias sobre Deus correspondam, o mais próximo possível, ao que Ele é realmente. Em vez disso, geralmente colocamos Deus numa caixa — e nossa caixa é incrivelmente pequena! Temos a tendência de deixar que nossa cultura, em vez de nosso Criador, determine os nossos valores. Esses valores influenciam nossos pensamentos acerca de Deus e moldam a maneira como nos relacionamos com Ele em nossa experiência diária.
A única maneira de saber como Deus é exatamente é descobrindo o que Ele revelou sobre Si mesmo nas Escrituras. A revelação da natureza de Deus é constituída de diferentes categorias de atributos, os quais são definições de Seu caráter.
O que as Escrituras dizem a respeito de Deus? Para começar, no sentido mais completo da palavra, Ele é incompreensível. Zofar compreendeu bem esse fato na repreensão inadequada que ele fez contra Jó: “Porventura, desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até à perfeição do Todo-Poderoso? Como as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás fazer? Mais profunda é ela do que o abismo; que poderás saber? A sua medida é mais longa do que a terra e mais larga do que o mar. Se Ele passa, prende a alguém e chama a juízo, quem o poderá impedir?” (Jó 11.7-10). Davi colocou desta maneira: “Grande é o SENHOR e mui digno de ser louvado; a sua grandeza é insondável” (Sl 145.3). Deus é infinito — Ele não tem fim.
A fim de definir o Deus infinito de uma maneira que possamos entender, muitas vezes temos que afirmar aquilo que Ele não é, para termos uma base de comparação. Por exemplo, quando dizemos que Deus é santo, queremos dizer que Ele não tem pecado algum. Não poderemos conceber uma santidade absoluta visto que estamos tão familiarizados com pecado.
Saber como é Deus é fundamental para conhecermos o próprio Deus. E o conhecimento de Deus é a essência do que é ser cristão. O apóstolo João escreveu: “E a vida eterna é esta: que te conheçam ati, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3, grifo meu). Quando a maioria das pessoas ouve o termo vida eterna, elas pensam numa vida que dura para sempre. Mas as Escrituras afirmam que ela é mais do que isso, é uma qualidade de vida para a pessoa que conhece a Deus.
Tragicamente, muitos crentes hoje têm colocado suas afeições nas coisas temporais deste mundo, trocando seu grande privilégio de conhecer melhor a Deus por aquilo que é mundano. O próprio Deus reprova esse tipo de pensamento, pois Ele declarou: “Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR” (Jr 9.23-24).
Em que o Senhor se deleita? Não é no fato de nos vangloriarmos pela sabedoria mundana, pelas proezas humanas ou pelo ganho material. Ele se deleita no fato de o conhecermos. Em seu livro, A Heart for God [Um Coração para Deus], Sinclair Ferguson inquire:
De que você e eu nos gabamos? Que assunto de conversa mais nos estimula e enche os nossos corações? Consideramos que o fato de conhecermos a Deus é o maior tesouro do mundo e, de longe, o nosso maior privilégio? Caso contrário, somos nada mais do que pigmeus no mundo do Espírito. Vendemos nossa primogenitura cristã por um guisado de lentilhas, e nossa verdadeira experiência cristã será superficial, inadequada e tragicamente desfocada.
Em vez de vendermos nossa primogenitura espiritual, devemos aprender a dizer como Davi: “Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água… para ver a tua força e a tua glória” (Sl 63.1-2).
Aprenda a dizer como o Apóstolo Paulo: “Meu alvo determinado é poder conhecê-Lo — para que eu possa progressivamente me tornar mais profunda e intimamente familiarizado com Ele e possa perceber, reconhecer e entender as maravilhas de Sua pessoa de modo mais intenso e claro” (Fl 3.10).
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