sexta-feira, 8 de julho de 2011

Quem foram os ebionitas?

Os ebionitas podem ser incluídos no grupo dos judaizantes, facções dissidentes e presentes no judaísmo-cristão do século 1o, notadamente em Jerusalém. O grupo insistia em guardar a lei de Moisés como uma observância não só para si, mas para todos os que se convertessem entre os gentios. Elementos como circuncisão, guarda do sábado e vegetarianismo faziam parte da ética ebionita. Tudo indica que obtiveram esse designativo, ebionitas, do termo hebraico ebyônîm, uma referência aos “pobres”. A princípio, era um predicado honroso para os cristãos em Jerusalém. Mas, geralmente, quando se faz referência aos ebionitas como comunidade religiosa, trata-se de uma seita herética que emigrou para a região Leste do Jordão e misturou, de forma inadequada, elementos judaicos e cristãos. Passagens bíblicas, como, por exemplo, Mateus 5.3 e Lucas 4.18, eram advogadas pelo ebionismo para sustentar suas crenças, porque seus adeptos observavam um estilo de vida baseado no ascetismo.

Sobre a origem ebionita, a Enciclopédia histórico-teológica da Igreja cristã informa que “Epifânio foi o primeiro dos pais da igreja a dizer que se originaram [os ebionitas] depois da destruição do templo, em 70 d.C.”. A atribuição da fundação do grupo é conferida, pelos estudiosos, a um líder da comunidade judaica conhecido como Ebion.

No que concerne ao cânon bíblico, aderiram apenas à Tanach (Bíblia Judaica) e ao evangelho de Mateus. Pregavam que as epístolas paulinas deviam ser rechaçadas por conterem ensinos antiebionitas. Aceitavam, também, o Evangelho dos hebreus, sendo que esse livro é apócrifo. Segundo alguns pesquisadores, o Evangelho dos hebreus é uma literatura comumente empregada pelos nazarenos e pelos ebionitas. Epifânio, bispo de Constância, faz menção de um outro evangelho, o dos ebionitas.

Os ebionitas não aceitavam a cristologia ortodoxa, pois rejeitavam completamente a divindade de Cristo, colocando-o no mesmo nível dos demais profetas do Antigo Testamento. Para eles, Cristoe nada mais era do que o novo Moisés. Negavam sua preexistência, sua encarnação e seu nascimento virginal. No conceito ebionita, embora Jesus fosse o Messias, era puramente humano. Somente no batismo Jesus foi ungido como Messias, ou seja, adotado como Filho de Deus. Em sua opinião, Jesus era um judeu fiel, piedoso, profeta e mestre inigualável.
Apesar da reconhecida importância da teologia e ética judaica no contexto cristão, todavia, cristianismo e ebionismo são mutuamente excludentes. Se o cristianismo, em sua origem, não fosse delineado conforme a teologia evangélica e paulina, não basearia seus ensinos nos de Cristo: “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão” (Gl 5.1).


Como entender a expressão “banco”, em Lucas 19.23?

“Por que não puseste, pois, o meu dinheiro no banco, para que eu, vindo, o exigisse com os juros?”.

Os bancos surgiram da necessidade de se guardar as moedas em lugar seguro. Uma informação importante é que “os primeiros bancos reconhecidos oficialmente surgiram na Inglaterra, e a palavra bank veio da italiana banco, peça de madeira que os comerciantes de valores, oriundos da Itália e estabelecidos em Londres, usavam para operar seus negócios no mercado público londrino”.

Quando analisamos as palavras bíblicas, devemos considerar alguns fatos. Entre eles, o mais importante é observarmos a palavra no idioma original. As versões portuguesas interpretaram como “banco” o que a língua grega traz como “mesa”. No original, o termo é trápeza. As palavras “banqueiros” e “banco”, devem ser entendidas à luz do contexto sociológico da época, o que nos causa estranheza hoje, pois as instituições bancárias, na atualidade, são verdadeiros monumentos de multiforme processo financeiro.

Havia cobranças de juros, em caso de empréstimos no período veterotestamentário, aos que fossem estrangeiros (Dt 23.19,20). Contudo, nem todos os judeus consentiam no processo de empréstimo a juros na antiga nação judaica: “Não lhe darás teu dinheiro com usura, nem darás do teu alimento por interesse” (Lv 25.37). Na verdade, os “verdadeiros bancos e negócios bancários foram estabelecidos em Israel somente após o exílio babilônico”.

Em uma de suas parábolas, Jesus narra a parábola do “tesouro escondido”, que trata de um homem que, ao encontrar um portentoso tesouro em um campo, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele terreno, para depois tomar posse do tesouro (Mt 13.44).

Quem, no seu perfeito senso de responsabilidade, esconderia um tesouro, algo de inestimável valor, debaixo da terra? Devido às pilhagens, às guerras ou às incertezas políticas, os prósperos sempre procuravam ser precavidos. Os mais abastados financeiramente guardavam suas riquezas sob os cuidados de uma guarda, na “casa do tesouro” (2Rs 20.13). Os demais tinham de esconder seu tesouro em algum lugar, motivo pelo qual o homem da parábola em questão encontra o tesouro enterrado. Deve ficar entendido que havia o sistema “bancário” da época, no qual as pessoas investiam suas moedas e bens para que pudessem, mais tarde, usufruir os juros. Esse dado é importante para evidenciar a situação ainda precária do que é chamado na Bíblia de “banco” ou “banqueiros”: “Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e, quando eu viesse, receberia o meu com os juros” (Mt 25.27; Lc 19.23; Mt 25.27).

Champlin, comentando sobre esse texto, diz que havia um “antigo costume dos cambistas efetuarem seus comércios em público, diante de uma mesa onde o dinheiro era lançado. Esses cambistas negociavam o dinheiro em troca de uma taxa, e pagavam juros aos investidores”. Portanto, nos dias de Jesus, esses cambistas é que eram considerados e chamados de “banqueiros”.


Em 2Coríntios 11.17, Paulo está contradizendo os ensinos de Jesus?

“O que digo, não o digo segundo o SENHOR, mas como por loucura, nesta confiança de gloriar-me”.

É de salutar importância que a pessoa aceite e entenda que a Bíblia é a inerrante e infalível Palavra de Deus. Se ela, porém, desqualifica a Bíblia diante de qualquer coisa, então passa a procurar e a enxergar tão-somente as “contradições” bíblicas. O diabo foi o primeiro a dizer o que Deus não disse, porque sentia ódio por Deus e por sua criatura, o homem.

O que as pessoas chamam de “contradições bíblicas” não passam de dificuldades em entender a Palavra de Deus. Contudo, essa dificuldade não é o mesmo que impossibilidade, obscuridade em compreendê-la. Há, para isso, escolas teológicas, cursos bíblicos para obreiros e leigos em geral, muitos livros de hermenêutica, conhecimento indutivo, etc. Agostinho, prontamente, disse: “Se estamos perplexos por causa de aparente contradição nas Escrituras, não nos é permitido dizer que o autor desse livro tenha errado; mas ou o manuscrito tinha falhas, ou a tradução está errada, ou nós não entendemos o que está escrito”. É bom que se entenda que manuscrito é uma coisa e cópia original das Escrituras é outra.

Uma das coisas que aprendemos no estudo bibliológico é que a convicção e a certeza da autoridade da Bíblia provêm do estudo interno do Espírito Santo na vida da pessoa. Alguém que não tem em si o Espírito Santo (Jo 14.17) não foi regenerada (Jo 3.6). Portanto, é natural (1Co 2.14) e não tem capacidade para entender as coisas espirituais (1Co 2.14). As dificuldades são dirimidas quando há o testemunho interno do Espírito Santo em nosso coração.

O apóstolo Paulo tinha a Palavra de Deus com reverência e reconhecia que ela era singular, única: “Por isso também damos, sem cessar, graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a qual também opera em vós, os que crestes” (1Ts 2.13).

Em outro texto, Paulo reconhece que o evangelho que pregava lhe fora revelado por nosso Senhor Jesus Cristo: “Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo” (Gl 1.11,12).

O apóstolo Pedro, ao mencionar o cuidado que Paulo tinha com os irmãos, refere-se aos seus escritos como tendo autoridade escriturística, tanto quanto os demais livros bíblicos: “E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição” (2Pe 3.15,16).

Quando Paulo afirma: “Digo, porém, isto como que por permissão e não por mandamento” (1Co 7.6); ou: “O que digo, não o digo segundo o SENHOR” (2Co 11.17), não quer dizer, com essas expressões, que a Palavra de Deus está em contradição com outros textos, como, por exemplo, o de 2Timóteo 3.16, que diz: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça”.

No mínimo, entendemos que Paulo está tratando de um assunto que, segundo seu ponto de vista, não fere, em nada, a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo e das Escrituras em geral. Associar 2Timóteo 3.16 com 1Coríntios 7.6 e 2Coríntios 11.17 e afirmar que isso é contradição, implica em pelo menos dois erros: associação indevida de textos e desconhecimento das regras de interpretação bíblica. Devemos tomar “cuidado com a Bíblia na boca do diabo”.

Referências bibliográficas:

Bíblia Apologética. Instituto Cristão de Pesquisas, 2005.
GEISLER, Norman & HOWE Thomas. Enciclopédia manual popular de dúvidas, enigmas e “contradições da Biblia”. Editora Mundo Cristão, 1999.
ELWEL, Walter A. Enciclopédia histórico-teológica da Igreja cristã. Editora Vida Nova, 1998.
MARSHALL, I.Howard. Atos: introdução e comentário. Editora Vida Nova, 1982.
CHAMPLIN, Russel Norman. Novo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Candeia, 1995.
CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de teologia e filosofia. Editora Candeia, 1995.
http://www.engetecno.com.br/chourico.htm

Preparado por Gilson Barbosa

Participantes desta edição

Antônio Porto Rosa Filho
João Batista Freire
Reynaldo dos Santos

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