segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

As bênçãos singulares do evangelho de Jesus

Estudo Bíblico sobre: "As bênçãos singulares do evangelho de Jesus"

Referência: MArcos 2.13-28
INTRODUÇÃO
1. Jesus atraía as multidões – v. 13
Jesus foi o homem mais amável que já pisou no mundo. Sua personalidade, ensino e obras sempre atraíram as pessoas. Onde ele estava sempre havia a esperança de um novo começo. Em Jesus as pessoas encontravam alívio para seus fardos, cura para suas enfermidades e perdão para seus pecados.
2. Jesus atraía a oposição – v. 6,16,18,24;3:6
A verdade sempre incomada a mentira e a luz sempre denuncia as trevas. Na mesma proporção que Jesus atraía a multidão, despertava a inveja dos escribas e fariseus. A oposição a Jesus tornou-se progressiva:
Em primeiro lugar, os escribas arrazoavam em seu coração (2:6). Era uma oposição velada, silenciosa e íntima.
Em segundo lugar, os escribas perguntam aos discípulos de Jesus (2:16). Agora, eles falam, mas não com Jesus. Eles destilam suas críticas de forma indireta.
Em terceiro lugar, os fariseus perguntam diretamente a Jesus (2:18). A pergunta deles era uma censura e uma denúncia enrustida. A intenção deles não era aprender, mas acusar. Eles sempre vinham com perguntas de algibeira para apanhar Jesus no contrapé.
Em quarto lugar, os fariseus advertem a Jesus (2:24). A oposição torna-se explícita, ganhando um contorno denso de uma crítica aberta. Agora o inimigo põe as unhas de fora e destila todo o seu veneno contra Jesus.
Em quinto lugar, os fariseus se unem aos herodianos para tramarem a morte de Jesus (3:6). Veja a progressão dessa oposição: de um pensamento íntimo de censura caminharam para uma pergunta indireta. Desta à uma pergunta pessoal e daí a uma censura verbal. Agora, se mancomunam com os herodianos a quem consideravam indignos, para tramarem a morte de Cristo.
Nesse contexto de ensino à multidão e pressão da oposição dos escribas e fariseus, Jesus nos fala sobre as bênção singulares do evangelho.
I. O EVANGELHO ABRE AS PORTAS DO REINO PARA OS REJEITADOS – v. 14
Jesus chamou Levi, filho de Alfeu, para ser discípulo (1:14). Este Levi trabalhava em uma coletoria e era um publicano (Lc 5:27). Também era chamado de Mateus (Mt 9:9).
William Hendriksen diz que certos romanos, membros da cavalaria, pagavam uma grande soma de dinheiro ao tesouro romano para coletar os impostos públicos sobre os produtos exportados e importados da província. Esses “generais da fazenda” sublocavam esse privilégio para “chefes de publicanos” do distrito como Zaqueu (Lc 19:2), que por seu turno, distribuíam a tarefa da coleta para outros publicanos menos graduados. O termo publicano tornou-se, assim, sinônimo de coletor de impostos.
Esses coletores de impostos ganharam a fama de inimigos e traidores do povo, pois além de estarem a serviço de Roma, também extorquiam o povo, cobrando mais do que o estipulado, enriquecendo-se, assim, de forma desonesta. Desta forma passaram a ser odiados pelo povo. Um judeu que aceitasse tal ofício era expulso da sinagoga e envergonhado pela família e amigos. Um fariseu que se tornasse coletor era execrado e sua esposa podia divorciar-se dele. Um coletor de impostos era visto como alguém que amava mais o dinheiro que a reputação. Certamente Mateus era um homem odiado por seus contemporâneos.
Cafarnaum era uma cidade aduaneira, uma ponte entre a Europa e a África. Cafarnaum era a sede da secretaria da fazenda na rota entre Damasco ao nordeste e o Mar Mediterrâneo no oeste. Estes postos de alfândega cobravam impostos nas apenas nas fronteiras, mas também na entrada e saída de povoados, nas encruzilhadas e nas pontes. Produtos não declarados podiam ser confiscados pelo publicano. Esses cobradores eram tidos como ladrões e assaltantes por definição, diz Adolf Pohl.
Diante desses fatos, o chamado de Jesus a Levi nos ensina algumas verdades:
1. Jesus chama soberanamente – v. 14a
Jesus chamou um homem execrado publicamente e não deu nenhuma explicação a ele nem ao povo. Jesus tem autoridade para chamar quem ele quer para a salvação e para o serviço. Sem o divino chamado ninguém pode ser salvo, pois jamais nos tornaremos para Deus a menos que ele nos chame por sua graça, diz John Charles Ryle. Na verdade Jesus não fez um convite, deu uma ordem.
Embora não possamos afirmar com segurança que Mateus tenham sido um homem desonesto, há fortes indícios de que tenham sido escravo da avareza, pois havia vendido seu patriotismo com o propósito de ganhar dinheiro. Ele chama a quem quer e isso, soberanamente (3:13). Não somos nós quem escolhemos a Cristo, foi ele quem nos escolheu (Jo 15:16). Não fomos nós quem o achamos, mas ele quem nos buscou. Nós o amamos, porque ele nos amou primeiro.
2. Jesus chama eficazmente – v. 14b
Quando Cristo chama, ele chama eficazmente (Rm 8:30). Jesus disse que as suas ovelhas ouvem a sua voz e o seguem (Jo 10:27). Levi atendeu pronta e imediatamente o chamado de Jesus. Ele não argumentou nem adiou sua decisão. Sua obediência decisiva e imediata é solenemente registrada. Lucas 5:28 diz que ele deixou tudo. O chamado de Cristo foi irresistível. O mesmo que chama é aquele que muda as disposições íntimas da alma. Ele não apenas chama, mas atrai com cordas de amor.
Mateus deixou a coletoria imediatamente e seguiu a Jesus. Essa resposta pronta ao chamamento do Senhor foi um grande milagre e libertação. Ele deixou sua profissão e o lucro e queimou todas as pontes do seu passado. Ele trocou o lucro fácil pela consciência limpa, as glórias do mundo pelas riquezas do Reino de Deus.
O chamado de Mateus deve nos encorajar a esperar a salvação daqueles que julgamos mais difíceis. O mesmo Jesus que chama quebra as cadeias e abre os corações. O vento do Espírito sopra aonde quer. O tempo dos milagres ainda não passou. Ele continua chamando pecadores a si!
3. Jesus chama graciosamente – v. 15,16
Levi deu um grande banquete a Jesus e convidou numerosos publicanos e pecadores para a estarem com ele em sua casa (Lc 5:29,30). Levi abriu não só o coração para Jesus mas também sua casa. Os escribas e fariseus, verdadeiros espiões de plantão, consideravam pecadores aqueles que quebravam tanto a lei moral de Deus e aqueles que infrigiam as inumeráveis regras e preceitos da interpretação farisaica da santa lei de Deus. Assim eram considerados pecadores tanto os que cometiam adultério como aqueles que comiam sem lavar as mãos. Aos olhos dos fariseus, todos os que não era fariseus eram “pecadores”. Eles disseram aos guardar que foram prender a Jesus: “Quanto a esta plebe que nada sabe da lei, é maldita” (Jo 7:49).
Levi ao mesmo que celebra a festa da sua salvação, abre sua casa para que seus pares conheçam também a Jesus e sejam salvos. Ele transformou seu lar num grande instrumento de evangelização. Ele queria que os seus colegas de profissão e os pecadores também se tornassem seguidores do Senhor Jesus.
Os escribas, mediante uma pergunta aos discípulos de Jesus, censuram-no por comer com os publicanos e pecadores (2:16). A religião deles era a religião do apartheid. Eles se consideravam justos e dos demais como pecadores, indignos do amor de Deus.
II. O EVANGELHO ABRE AS PORTAS DA SALVAÇÃO PARA OS QUE SE CONSIDERAM PECADORES – v. 17
O evangelista Marcos diz: “Tendo Jeus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores” (2:17).
1. O que Jesus não quis dizer?
Esta figura usada por Jesus tem sido interpretada de forma equivocada por alguns. Vejamos, então, o que Jesus não quis dizer:
Em primeiro lugar, Jesus não quis dizer que há alguns que são sãos e justos aos olhos de Deus. A Bíblia é clara em afirmar que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm 3:23). Aqueles que se consideram sãos e justos estão em um estado mais avançado da sua doença e iniquidade. O pior enfermo é aquele que não reconhece sua doença e o maior pecador é aquele que não se vê como tal.
Em segundo lugar, Jesus não quis dizer que estes não necessitam do Salvador. Os escribas e fariseus se consideram sãos e bons aos olhos de Deus, mas na verdade, eles estavam tão necessitados quanto os publicanos de salvação. Não importa quão alta é a avaliação que temos de nós mesmos. Somos totalmente carentes da graça de Deus.
Em terceiro lugar, Jesus não quis dizer que seu amor pelos pecadores implica em falta de amor com os justos. A lógica de Jesus é: se ele encarna a vontade divina de ajudar até as pessoas totalmente condenáveis, então ele tem ajuda para todos.
2. O que Jesus quis dizer
A figura usada por Jesus tem uma mensagem clara:
Em primeiro lugar, só os que se reconhecem doentes e pecadores têm consciência da necessidade da salvação. Só uma pessoa doente procura o médico. Só uma pessoa consciente do seu pecado busca salvação. Não há fé sem arrependimento nem salvação sem conversão. Ninguém busca água sem sentir sede nem anseia pelo pão da vida sem fome. Uma pessoa antes de vir a Cristo, precisa primeiro sentir-se carente da graça de Deus. A salvação não é para aqueles que se consideram dignos, mas aqueles que são indignos e estão em situação desesperadora. Jesus veio para salvar os pecadores, perdidos, pobres, sofredores, famintos e sedentos (Mt 5:6; 11:28-30; 22:9,10; Lc 14:21-23; 19:10; Jo 7:37-38). Jesus não veio ao mundo apenas para ser um legislador, um mestre ou rei. Ele veio como o médico da nossa alma e o nossoredentor. Ele nos conhece, nos ama, nos cura, nos perdoa e nos salva.
Em segundo lugar, só os que se humilham podem ser salvos. A atitude dos escribas e fariseus era de soberba e altivez. Eles se consideram bons e justos. Eles olhavam com desdém os publicanos e pecadores e se vangloriavam diante de Deus por suas virtudes (Lc 18:11). Mas, a única pessoa pela qual Jesus nada faz é aquela que se julga tão boa que não necessita de que ninguém a ajude. Essa pessoa levanta uma barreira entre ela e Jesus e assim fecha a porta do céu com suas próprias mãos.
Warren Wiersbe diz que há três tipos de pacientes que Jesus não pode curar de suas doenças: 1) aqueles que não o conhecem; 2) aqueles que o conhecem, mas se recusam a confiar nele e 3) aqueles que não admitem que necessitam dele.
III. O EVANGELHO ABRE AS PORTAS PARA UMA VIDA DE JUBILOSA CELEBRAÇÃO – v. 18-20
A religião judaica havia transformado a vida num fardo pesado e os ritos sagrados em instrumentos de tristeza e opressão. Os discípulos de João e os fariseus ficaram escandalizados com o estilo de vida dos discípulos de Jesus. Os fariseus jejuavam para mostrar sua piedade, os discípulos de João para mostrar sua tristeza pelo pecado. A palavra aramaica para “jejuar” tem o sentido de “estar de luto”. Os judeus quando jejuavam e ficavam tristes tinham a intenção de conseguir algo de Deus: “Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso?” (Is 58:3).
Os fariseus e discípulos de João perguntaram a Jesus num tom de provocação e censura:
Por que motivo jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam? Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Durante o tempo em que estiver presente o noivo, não podem jejuar. Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; e, nesse tempo, jejuarão. (2:18-20)
Esse episódio nos enseja duas lições importantes:
1. A religião pode se transformar num fardo pesado em vez de ser um instrumento libertador – v. 18,19
O jejum é uma prática bíblica legítima. Havia um único jejum anual exigido na lei, o dia da expiação (Lv 16:29-34; Jr 36:6). Nesse dia o povo afligia a sua alma e sentia profunda tristeza. Os escribas e fariseus, entretanto, acrescentaram à lei de Deus a tradição dos homens e impuseram outras práticas de jejum. Um fariseu jejua duas vezes por semana (Lc 18:12). Eles jejuavam para serem vistos pelos homens e atraírem a atenção de Deus. Eles faziam do jejum o palco de um teatro onde apresentavam o show de uma piedade que devia encantar a Deus e impressionar os homens.
É bom destacar que Jesus não estava contra o jejum. Ele emsmo jejuou quarenta dias e ratificou o jejum voluntário (Mt 9:15). Moisés jejuou quarenta dias no Horebe. Patriarcas, profetas, reis e sacerdotes jejuaram. Deus ordenou o jejum como um importante exercício devocional. Jesus e os apóstolos jejuaram. A igreja de Deus ao longo dos séculos tem jejuado. Mas Jesus denunciou um jejum dos hipócritas que desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam (Mt 6: 16). O jejum dos escribas e fariseus era um ritual para a sua própria exibição e não a expressão do sentimento do coração.
2. A vida que Jesus oferece é como uma festa de efusiva alegria – v. 19
A vida cristã é como uma festa de casamento e não como um funeral. A festa de casamento é uma celebração de alegria e não de tristeza. A piedade farisaica era medida pela tristeza do jejum, a piedade cristã manifesta-se na alegria da presença do noivo com a igreja. As bodas de casamento era a semana mais feliz da vida de um homem. Para essa semana de felicidade, os convidados especiais eram os amigos do noivo e da noiva, chamados de os filhos da câmara nupcial. Os convidados às festas de bodas estavam dispensados da obrigação de jejuar. Jesus compara os seus discípulos como os convidados para esta festa das bodas. Jesus veio para nos trazer vida abundante (Jo 10:10). A vida cristã deve ser a fruição de uma alegria inexplicável e cheia de glória. A vida cristã é como um casamento com Cristo. Estamos comprometidos com ele. O casamento judaico tinha quatro estágios: 1) o noivado; 2) a preparação; 3) a chegada do noivo; 4) as bodas.
Adolf Pohl diz que quando ser convidado para uma festa de casamento era motivo de uma alegria desmedida que ofuscava tudo o mais. Professores da lei interrompiam seu estudo da Torá, inimigos se reconciliavam, mendigos e quem mais aparecesse podia comer de graça. Rufavam tambores, nozes eram jogadas aos convivas, a procissão dançava diante da noiva e louvava sua beleza.
A igreja não é apenas o grupo dos amigos do noivo, a igreja é a própria noiva (Is 54:5; Jr 31:32; Ap 19:7,8). Hoje celebramos a alegria da salvação, mas um dia entraremos na Casa do Pai, na glória celeste, e então, essa festa onde não vai entrar choro nunca vai acabar. Estaremos para sempre com ele.
Essa nova ordem trazida por Jesus deixa para trás o legalismo fariseu e inaugura um novo tempo de liberdade e vida plena. A vida que Jesus oferece está trazendo alegria para o triste, cura para o enfermo, libertação para o endemoninhado, puficação para o leproso, pão para o faminto e salvação para o perdido.
IV. O EVANGELHO ABRE AS PORTAS PARA UMA VIDA RADICALMENTE NOVA – v. 21-22
Jesus usou três figuras em sua conversa com os fariseus. A primeira figura já tratamos: a figura do doente e do médico. Agora, vamos examinar as outras duas: a figura do remendo novo em tecido velho e do vinho novo em odres velhos. Quais são as lições que essas figuras nos ensinam?
1. A vida cristã não é um remendo ou reforma do que está velho, mas algo totalmente novo – v. 21
Um remendo novo num pano velho abre uma fissura ainda maior. O cristianismo não é uma reforma do judaísmo nem um remendo das práticas judaicas. A vida cristã não é apenas um verniz, uma caiação de uma estrutura rota, mas uma nova vida, algo radicalmente novo. Na época de Lutero não era possível remendar os abusos doutrinários da igreja romana. Era necessário iniciar uma volta ao cristianismo primitivo. Na época de John Wesley o tempo de pôr remendo à Igreja Angligana havia passado.
O vestido velho é o velho sistema da lei e os velhos costumes do povo judeu. A salvação que Cristo oferece são as vestes alvas e a justiça de Cristo são o linho finíssimo. Em Cristo todas as coisas são feitas novas (2 Co 5:17).A vida cristã não é uma mistura do velho com o novo. É algo completamente novo. O evangelho transforma e liberta. O evangelho é a palavra de vida; o judaísmo com seus preceitos legalístas é letra morta. O evangelho liberta, o legalismo mata; o evangelho salva, o legalismo faz perecer.
2. A vida cristã não pode ser acondicionada numa estrutura velha e arcaica – v. 22
Na Palestina o vinho era guardado em odres de couro. Quando esses odres eram novos possuíam uma certa elasticidade, mas à medida que iam envelhecendo ficavam endurecidos e perdiam a elasticidade. O vinho novo ainda está em processo de fermentação. Isso significa que os gases liberados aumentam a pressão. Se o coro é novo, cederá à pressão, mas se é velho e sem elasticidade, é possível que se rompa e se perca tanto o vinho como o odre. O vinho do cristianismo não pode ser acondicionado nos odres velhos do judaísmo.
O cristianismo requer novos métodos e novas estruturas. Não podemos ter o coração duro como os odres ressecados pelo tempo. Precisamos manter nosso coração aberto à mensagem transformadora do evangelho.
V. O EVANGELHO ABRE AS PORTAS DA LIBERDADE PARA OS PRISIONEIROS DO LEGALISMO – v. 23-28
O sábado judaico tinha se transformado num carrasco do homem. Ele era um fardo insuportável em vez de um elemento terapêutico. Ele era um fim em si mesmo em vez de ser um instrumento de bênção para o homem. Por essa causa, os fariseus ao verem os discípulos de Jesus colhendo e comendo espigadas nas searas em dia de sábado, debulhando-as com as mãos (2:23; Lc 6:1), advertiram a Jesus nesses termos: “Vê! Por que fazem o que não é lícito aos sábados?”
Esse incidente oportunizou Jesus de ensinar várias lições importantes:
1. Os discípulos não estavam fazendo algo proibido – v. 23,24
A prática de colher espigas nas searas para comer estava rigorosamente de conformidade com a lei de Moisés (Dt 23:24-25). Mas os escribas e fariseus estavam escondendo a verdadeira lei de Deus debaixo da montanha de tradições tolas que eles tinham fabricado. Eles tinham acrescentado à lei trinta e nove regras sobre a maneira de guardar do sábado, tornando a sua observância num fator escravizante e opressor. Segundo as estritas normas dos fariseus os discípulos haviam quebrado a lei do sábado e isso era um pecado mortal.
2. O conhecimento da Palavra é o meio de nos livrarmos do legalismo – v. 25,26
Jesus cita a Escritura para os fariseus e mostra como Davi quebrou a lei cerimonial comendo com seus homens os pães da proposição só permitidos aos sacerdotes (1 Sm 21:1-6). Só os sacerdotes podiam comer esse pão da proposição (Lv 24:9), mas a necessidade humana prevaleceu sobre a lei cerimonial. Warren Wiersbe, analisando esse episódio na perspectiva de Mateus afirma que Jesus usou três argumentos para defender os seus discípulos: o que Davi fez (Mt 12:3-4), o que os sacerdotes fizeram (Mt 12:5-6) e o que o profeta Oséias diz (Mt 12:7-9).
William Hendriksen diz que se Davi tinha o direito de ignorar as privisões cerimoniais, divinamente ordenadas, quando a necessidade exigia, não teria Jesus, o Filho de Deus, num sentido muito mais evidente, o direito, sob as mesmas condições de necessidade, de deixar de lado os regulamentos sabáticos não autorizados, feitos pelo homem?
O pão da proposição nunca foi tão sagrado como quando foi utilizado para alimentar um grupo de homens famintos. O sacerdote entendeu que a necessidade dos homens é mais importante do que os regulamentos cerimoniais. O dia do descanso nunca é tão sagrado como quando é usado para prestar ajuda aos necessitados. O árbitro final como respeito ao ritos sagrados não é o legalismo, mas o amor.
3. O homem vale mais do que os ritos sagrados – v. 27
John Charles Ryle diz que Deus fez o sábado para Adão no paraíso e o renovou para Israel no Monte Sinai. Ele foi feito para todaa a humanidade e não apenas para o povo judeu. Ele foi feito para o benefício e felicidade do homem. O sábado foi feito para o bem físico, mental e espiritual do homem. Ele foi dado como uma bênção e não como um fardo. Esse foi o propósito com que o sábado foi criado por Deus.
Deus não criou o homem por causa do sábado, mas o sábado por causa do homem. O homem não foi criado por Deus para ser vítima e esravo do sábado, mas o sábado foi criado para que a vida do homem fosse mais plena e feliz. Na verdade o sábado foi instituído para ser uma bênção para o homem: para mantê-lo saudável, útil, alegre e santo, dando-lhe condições de meditar calmamente nas obras do seu criador, podendo deleitar-se em Deus (Is 58:13,14) e olhar adiante, com grande expectativa, para o “repouso que resta para o povo de Deus” (Hb 4:9).
Jesus está dizendo com isso que a religião cristã não consiste de regras. As pessoas são mais importantes do que o sistema. A melhor maneira de adorar a Deus é ajudando as pessoas. A melhor maneira de fazer uso das coisas sagradas é pondo-as a serviço dos que padecem necessidade. Esse é o único modo autêntico de dá-las a Deus, diz William Barclay.
4. O Senhorio de Cristo traz liberdade e não escravidão – v. 28
Jesus é o Senhor do sábado. Seu senhorio não é escravizante nem opressor. O legalismo é um caldo mortífero que envena, asfixia e mata as pessoas. Ele é vexatório e massacrante. Chegou ao ponto de transformar o que Deus criou para aliviar o homem, o sábado, num tirano cruel. Jesus veio para estabelecer sobre nós seu senhorio de amor. Agostinho disse que quanto mais servos de Cristo somos, mais livres nos sentimos. Ele é maior do que o templo (Mt 12:6), maior do que Jonas (12:41), maior do que Salomão (12:42) e maior do que o sábado (2:28).
Rev. Hernandes Dias Lopes

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